O "juiz de extradição de primeira instância considera iniciada a audiência de apresentação e retirada de provas no processo de extradição solicitado pelos Estados Unidos para o ex-presidente Juan Orlando Hernández", disse o Supremo Tribunal de Justiça (SCJ) no Twitter.
Hernández, detido desde meados de fevereiro no quartel Los Cobras das forças especiais da polícia, foi transferido ao tribunal para a audiência judicial.
"Os argumentos da defesa (de Hernández) serão ouvidos e, em seguida, o juiz terá o tempo que for pertinente para avaliar esses argumentos de prova (...) e decidirá se a extradição é concedida ou não", afirmou o porta-voz da Polícia, Melvin Duarte.
"No caso de deferimento da extradição e dessa decisão ser recorrida (...) o processo deve ser conhecido pelos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça em sessão plenária e estes terão de ratificar a decisão ou terão de modificar ou revogá-la", acrescentou Duarte. Isso pode atrasar a decisão de extradição por até duas semanas.
- "Não enviaram provas" -
"Os Estados Unidos não enviaram nenhuma prova suficiente e fidedigna" que envolva Hernández "em atividades de narcotráfico, como exige o tratado de extradição para que o juiz outorgue o pedido", declarou a defesa do ex-presidente em um comunicado.
Seus advogados acrescentaram que "em um tribunal de justiça hondurenho, o que a Procuradoria dos Estados Unidos enviou não sustenta nenhuma acusação contra nenhum indiciado (...), não enviou nenhuma documentação probatória, nem fotografias, nem áudios, nem vídeos".
Hernández entregou a presidência de Honduras em 27 de janeiro à esquerdista Xiomara Castro. Em 14 de fevereiro, os Estados Unidos solicitaram sua extradição. Um dia depois, ele foi capturado.
Os promotores de Nova York vincularam o ex-presidente ao tráfico de drogas durante o julgamento contra seu irmão, o ex-deputado "Tony" Hernández, condenado em março de 2021 à prisão perpétua por esse crime.
- "Não está sozinho" -
Durante a audiência, dezenas de simpatizantes do Partido Nacional (PN, de direita), do qual Hernández pertence, se reuniram em frente ao prédio do Poder Judiciário, ao sul de Tegucigalpa, exigindo a liberdade do ex-presidente.
"Não está sozinho", gritavam os manifestantes. "Eles erraram ao apontar um homem honesto como traficante de drogas", disse um dos presentes. "Uma mentira foi criada por uma mente maligna e repetida por tolos. Eles a tornaram verdade", dizia uma das bandeiras que carregavam.
"Estamos diante de uma grande injustiça", reclamou a esposa do ex-governador, Ana García, por meio de um vídeo. "Juan Orlando não é traficante de drogas", assegurou. García também esteve presente do lado de fora dos tribunais.
O chefe das forças especiais, Miguel Pérez, informou que 280 soldados cercaram o prédio da Corte durante a audiência para garantir a segurança.
- Ex-aliado -
Hernández "se envolveu em corrupção significativa ao cometer ou facilitar atos de corrupção e tráfico de drogas, e ao utilizar os lucros de atividades ilícitas para campanhas políticas", disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Os promotores dos EUA se referiram ao ex-presidente como um "co-conspirador" que transformou Honduras em um "narco-Estado" ao envolver militares, policiais e outros civis no tráfico de drogas para os Estados Unidos.
Hernández, ex-aliado de Washington, critica o sistema de justiça dos Estados Unidos ao afirmar que o acusa com base em "declarações de narcotraficantes e assassinos confessos" que foram extraditados por seu governo.
No discurso de posse, a presidente Xiomara Castro prometeu combater a corrupção e os cartéis do narcotráfico, para o qual recebeu o apoio dos Estados Unidos através da vice-presidente Kamala Harris, que assistiu à posse.
TEGUCIGALPA