Anos de tensão entre Moscou e o Facebook e o Twitter terminaram em confronto após a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, com as plataformas visando a mídia russa ligada ao Estado, levando Moscou a restringi-las em resposta.
O YouTube, que também removeu globalmente canais vinculados ao Kremlin, enfrentou uma ameaça direta de ser bloqueado na sexta-feira depois que o regulador de mídia russo Roskomnadzor acusou o site de propriedade do Google de comportamento "antirrusso".
Os aplicativos de mensagens permanecem imunes, pelo menos até agora, em parte porque o WhatsApp, de propriedade da Meta, é menos adequado para comunicação de massa, enquanto a capacidade do Telegram de espalhar informações para grandes grupos tem sido útil tanto para a mídia independente quanto para o próprio Kremlin.
"Acho improvável que a Rússia proíba o Telegram porque faltam plataformas onde possa operar", acredita Serguei Sanovich, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Princeton, que lembra que em 2020 as autoridades abortaram os esforços para bloquear o serviço.
O Telegram, criticado por suas políticas negligentes de conteúdo, oferece às autoridades russas um fórum para promover narrativas relacionadas à sua incursão militar condenada internacionalmente.
A Rússia ainda opera contas em plataformas como o Facebook, apesar do bloqueio do serviço doméstico, mas a gigante do Vale do Silício removeu postagens das páginas de Moscou que continham informações erradas sobre a invasão da Ucrânia.
Por sua vez, o Telegram tornou-se um espaço essencial para a troca de notícias sobre a guerra, com crescimento acelerado causado pela repressão do Kremlin à mídia independente e o bloqueio de aplicativos como Facebook e Instagram.
Uma média de 2,5 milhões de novos usuários ingressaram no Telegram diariamente nas últimas três semanas, disse a empresa, um salto de cerca de 25% em relação às semanas anteriores.
- 'Guerra ao YouTube' -
No entanto, especialistas destacam o risco para o Telegram e seus usuários devido à falta de criptografia de ponta a ponta, potencialmente deixando a empresa suscetível à pressão do governo para deturpar informações.
Alp Toker, diretor do grupo de monitoramento NetBlocks, observa que o WhatsApp implementou firewalls que fornecem isolamento contra esse tipo de pressão.
"Ao melhorar sua segurança e adotar tecnologia de criptografia de ponta a ponta, basicamente protege sua plataforma contra riscos legais e possíveis ações judiciais sobre solicitações de acesso a conteúdo", explica Toker.
O uso do WhatsApp entre dois usuários ou em bate-papos em grupo torna o aplicativo um alvo menor para as autoridades russas por enquanto, mas isso pode mudar, caso se torne uma plataforma importante para protestos contra a guerra.
"A Roskomnadzor tem se preocupado muito com canais e notícias e formas de divulgar informações para grandes grupos de pessoas, para os quais o WhatsApp e outros são menos eficazes", aponta Eva Galperin, diretora de segurança cibernética da Electronic Frontier Foundation.
No entanto, Toker ressalta que o assunto ainda não atingiu um ponto crítico para as autoridades, em parte porque as redes sociais, muitas delas agora bloqueadas, desempenhavam um papel fundamental em termos de organização coletiva.
"À medida que essas (plataformas) desaparecem, a dinâmica pode mudar e os aplicativos de mensagens podem se tornar o próximo alvo", acrescenta.
O WhatsApp foi um dos aplicativos mais populares na Rússia durante 2021, com cerca de 67 milhões de usuários ou cerca de 65% dos internautas no país - muito acima do TikTok, da plataforma social russa VK, e até do Telegram, segundo a eMarketer.
Nessa lista, o YouTube atraiu mais russos do que qualquer outra plataforma, com 76 milhões de espectadores em 2021.
Sua popularidade deveu-se em parte ao acesso que oferecia ao entretenimento diário para os russos, que ao mesmo tempo representavam uma audiência para os políticos e o governo que buscavam sua atenção.
Sanovich, pesquisador de Princeton, ressalta que a plataforma simplesmente se colocou do lado errado.
"Eles tiveram dificuldade em controlar o YouTube em termos de censura, e as medidas recentes do YouTube tornam a plataforma menos valiosa como espaço de propaganda estrangeira", detalhou.
A falta de uma alternativa doméstica com qualidade suficiente também tem sido um complicador para o governo na hora de decidir o que fazer com o YouTube.
Toker, diretor da NetBlocks, alerta que bloquear o YouTube significa confrontar o Google e sua oferta de serviços, como o Gmail.
"Declarar guerra ao YouTube significa declarar guerra ao resto da empresa. (...) O Google é uma força importante nos negócios e uma conexão significativa com o mundo exterior", sentencia.
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