Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Senado dos EUA discute nomeação da primeira mulher negra para Suprema Corte

O Senado dos Estados Unidos começou a discutir nesta segunda-feira (21) a nomeação histórica da juíza negra Ketanji Brown Jackson à Suprema Corte, com os democratas tentando torná-la mais discreta e os republicanos dispostos a fazer perguntas incisivas.



O Comitê Judiciário do Senado realizará quatro dias de audiências de confirmação, a partir desta segunda-feira, para a jurista de 51 anos, indicada pelo presidente Joe Biden que, pouco antes do início, publicou um tuíte no qual destacou sua mente "brilhante" e seu "grande caráter e integridade".

"Ela merece ser confirmada como a próxima juíza da Suprema Corte", acrescentou.

"Peço aos membros deste comitê que, no início deste processo histórico de confirmação, considerem como a história julgará cada senador", disse por sua vez o presidente do Comitê Judicial do Senado, Dick Durbin, durante a abertura.

Apesar de seu talento, "os membros da Corte nunca representaram a nação a que servem", afirmou, acrescentando que, entre os 115 juízes, contou apenas com dois homens negros e cinco mulheres, nenhuma delas negra.

"Você poderia ser a primeira e nunca é fácil ser a primeira. Muitas vezes terá que ser a melhor, às vezes a mais corajosa", acrescentou, agradecendo-a por "enfrentar" essas audiências maratônicas, nas quais a juíza chegou sorridente e aparentemente tranquila.



"Devido à dimensão histórica da foto (...), seríamos racistas se fizéssemos perguntas difícies", mas "estamos acostumados", reagiu o senador republicano Lindsey Graham. O debate será "respeitoso", "não montaremos um espetáculo, mas faremos perguntas contundentes", disse.

As audiências no Senado para os indicados à Suprema Corte se tornaram um campo de batalha partidário nos últimos anos, entre republicanos e democratas.

"Além disso, muitos desses assuntos são problemas sociais candentes que movem votos ou motivam os eleitores", como o aborto e o direito às armas, explicou Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade de Virgínia, à AFP.

Jackson foi indicada para substituir outro juiz liberal, Stephen Breyer, que se aposentou aos 83 anos.

Sua confirmação, estima Sabato, não mudará completamente a composição da corte, dominada por uma maioria conservadora de 6 a 3.



Os democratas, com uma pequena vantagem, têm os votos para confirmar Jackson, jurista formada pela renomada Universidade de Harvard, que atuou como defensora pública federal para clientes desfavorecidos.

O Senado, formado por 100 membros, está dividido em 50-50 entre democratas e republicanos. A vice-presidente democrata Kamala Harris tem o voto de minerva.

Mas as credenciais de Jackson parecem abrir o caminho, apesar das disputas partidárias, segundo o analista.

Até senadores republicanos moderados votaram há apenas um ano para confirmar a indicação de Jackson ao Tribunal de Apelações do Circuito dos Estados Unidos.

Ainda assim, vários parlamentares republicanos criticaram Biden por cumprir sua promessa eleitoral de escolher uma mulher negra para a Suprema Corte.

"Já que os democratas infelizmente tiveram algum sucesso ao tentar pintar os republicanos como racistas, pode ser mais difícil recusar uma jurista negra", afirmou a senadora republicana Susan Collins, do Maine.

Se a indicação for confirmada, Jackson será a terceira pessoa afroamericana a servir na Suprema Corte, mas a primeira mulher negra.

Thurgood Marshall trabalhou na Corte entre 1967 e 1991 e foi sucedido por Clarence Thomas, que permanece no cargo. Thomas, de 73 anos, foi hospitalizado na sexta-feira com uma infecção, mas deve sair do hospital em breve, anunciou a Suprema Corte em um breve comunicado.