Assange, de 50 anos, tenta por todos os meios não ser extraditado para os Estados Unidos, que querem julgá-lo pela publicação de centenas de milhares de documentos secretos, incluindo muitos que revelaram os abusos cometidos pelos militares americanos no Iraque e no Afeganistão.
Na semana passada, a Suprema Corte britânica negou a possibilidade de recorrer da extradição, sobre a qual a ministra do Interior Priti Patel tem agora a última palavra.
Assange e Moris tiveram dois filhos em segredo durante os quase sete anos que o australiano viveu refugiado na embaixada equatoriana, onde ele foi preso em abril de 2019, quando o presidente Lenín Moreno retirou a proteção concedida a ele em 2012 por seu antecessor Rafael Correia.
Em novembro eles anunciaram o noivado e receberam permissão para casar na prisão de Belmarsh, ao sul de Londres.
"Não é um casamento na prisão, é uma declaração de amor e resistência apesar dos muros da prisão, apesar da perseguição política, apesar da detenção arbitrária, apesar do dano e assédio infligido a Julian e nossa família", escreveu Moris em um artigo publicado pelo jornal britânico The Guardian.
Um funcionário do registro civil realizará o casamento e apenas quatro convidados e duas testemunhas poderão comparecer à cerimônia.
Moris denunciou que as autoridades prisionais rejeitaram as testemunhas propostas - jornalistas - e o fotógrafo - que também trabalha para a imprensa -, apesar da presença em "caráter privado".
"Querem que Julian permaneça invisível para o público a todo custo, mesmo no dia de seu casamento, e especialmente no dia do seu casamento", escreveu, comparando essa "lógica de fazer uma pessoa desaparecer na esperança de que seja esquecida como o que a Rússia soviética fazia".
O vestido da noiva, uma jovem advogada que se uniu à equipe de defesa de Assange em 2011, foi desenhado pela lendária estilista britânica Vivienne Westwood, de 80 anos, uma defensora de longa data da causa de Assange.
O australiano usará o kilt escocês, em homenagem aos seus ancestrais.
Os convidados terão que sair logo após a cerimônia, mas dezenas de apoiadores planejam se reunir diante do presídio, onde Moris - que pediu doações para despesas legais em vez de presentes - cortará um bolo e fará um discurso.
Assange se tornou um cavalo de batalha dos defensores da liberdade de imprensa, que acusam Washington de tentar suprimir informações de segurança relevantes. Mas as autoridades americanas dizem que ele não é jornalista, e sim um hacker que colocou em risco a vida de muitos informantes ao publicar os documentos completos sem primeiro editá-los.
Se condenado por espionagem nos Estados Unidos, Assange pode receber uma sentença de 175 anos de prisão.
Sua defesa, coordenada pelo ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, argumentou que ele poderia cometer suicídio se exposto ao sistema prisional americano. E a princípio conseguiu que a justiça britânica lhe desse razão.
Mas o Executivo americano apelou e convenceu os juízes de que Assange seria mantido em boas condições, com tratamento psicológico adequado, obtendo o aval para sua entrega.
"Vamos esgotar todos os recursos nacionais e internacionais para defender aqueles que não cometeram nenhum crime e resistiram heroicamente e corajosamente à perseguição por mais de 11 anos por defender a liberdade de expressão e acesso à informação", disse Garzón.
LONDRES