Dirigido por Sian Heder, o filme, de baixo orçamento e um remake do francês "A Família Bélier", também ganhou os prêmios de melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur.
O filme superou pesos pesados na principal categoria do Oscar e deu à Apple a tão esperada estatueta, que se destaca de rivais como a Netflix, bem como dos tradicionais estúdios de Hollywood. Mas também estabelece um marco de representação no cinema.
"Obrigado à Academia por permitir que nosso 'CODA' (nome do filme em inglês) faça história esta noite", disse o produtor Philippe Rousselet.
"Escrever e fazer esse filme foi um desafio vital como artista e como ser humano. Quero agradecer a todos os meus colaboradores da comunidade surda, da comunidade 'coda', por serem meus professores", disse Sian Heder ao receber a estatueta de melhor roteiro adaptado.
Lançado pela plataforma Apple TV+ depois de vencer uma guerra de ofertas no Festival de Sundance do ano passado, No Ritmo do Coração arrecadou cerca de US$ 25 milhões. A diretora, que, segundo especialistas, teria contado com um orçamento de US$ 10 milhões, descartou locações caras para se concentrar na história da adolescente "Ruby Rossi".
O filme estabeleceu um marco em matéria de representatividade ao apresentar um elenco autêntico, liderado pela atriz Marlee Matlin, que com décadas de carreira em Hollywood, dá vida à mãe excêntrica e vulnerável de Ruby.
O comediante Troy Kotsur, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante, interpretou o pai de Ruby, e seu irmão foi interpretado com uma poderosa atuação de Daniel Durant ("Switched at Birth").
"Queria dizer apenas que isto é dedicado à comunidade surda, à comunidade 'coda' e à comunidade de deficientes. Este é o nosso momento", expressou Kotsur com sinais, traduzido por um intérprete.
Jessica Chastain, que interpretou uma televangelista que se tornou ativista dos direitos LGBTQ em "Os Olhos de Tammy Faye", venceu o prêmio de melhor atriz.
- Família 'Coda' -
No Ritmo do Coração deixou pelo caminho o favorito, "Ataque dos Cães", de Jane Campion, o aclamado "Belfast", de Kenneth Branagh, e a nova versão de "Amor, Sublime Amor", de Steven Spielberg.
Para analistas da indústria, No Ritmo do Coração tornou-se um sucesso retumbante graças à sua perspectiva familiar e ao apostar no tradicional enredo de superação de adversidades.
Com protagonistas que esbanjam química em cena, a obra se consagrou em fevereiro, quando ganhou o prêmio máximo do prestigiado Sindicato de Atores dos Estados Unidos. O reconhecimento ao melhor elenco equivale ao prêmio de melhor filme concedido pela Academia.
"Somos um elenco tão unido que foi genial ganhar este prêmio", disse à AFP Emilia Jones, que, como Sian Heder, aprendeu a linguagem de sinais americana antes das filmagens.
A produção contratou uma equipe de consultores especializados na linguagem de sinais para traduzir o roteiro de Heder e usá-lo como elo entre o elenco. Juntos, eles escolheram gestos do vocabulário de sinais que se adaptavam melhor aos usados em Massachusetts e que poderiam ser decifrados de forma intuitiva pelo público não familiarizado.
O triunfo de No Ritmo do Coração na temporada de premiações representa um grande impulso para a Apple, que, com um grande investimento, tenta compensar sua chegada tardia à guerra do streaming, dominada por rivais como Netlix e Diney+.
- "A arte imita a vida" -
A noite mais importante de Hollywood foi marcada por um incidente que deixou todos atônitos: quando Will Smith, que no fim da cerimônia venceu o prêmio de melhor ator por "King Richard: Criando Campeãs", deu um tapa no rosto do comediante Chris Rock no palco, antes de retornar para o lado da esposa Jada Pinkett Smith e gritar obscenidades.
"Mantenha o nome da minha mulher fora da p**** da sua boca", gritou Smith, o que levou os produtores a cortar por vários segundos o áudio da transmissão pela TV nos Estados Unidos.
Ao apresentar o prêmio de melhor documentário, Rock fez uma piada comparando o cabelo de Jada Pinkett Smith com a personagem de cabelo raspado de Demi Moore no filme de 1997 "GI Jane". A esposa de Smith sofre de alopecia, condição que provoca a queda de cabelo.
Minutos mais tarde, sem conter as lágrimas, Smith recebeu o prêmio de melhor ator e lamentou que "as pessoas faltem com o respeito. Também pediu desculpas à Academia "e todos os meus companheiros indicados".
Smith, que interpreta o pai das tenistas Serena e Venus Williams em "King Richard"", acrescentou que "a arte imita a vida".
"Eu pareço o pai maluco, como falavam de Richard Williams. Mas o amor te leva a fazer loucuras", acrescentou.
"Espero que a Academia me convide de novo", disse.
Após a transmissão da cerimônia, a Academia escreveu no Twitter que "não aprova a violência de nenhuma forma", sem fazer referência direta ao incidente.
- Direção -
O western sombrio "Ataque do Cães" foi indicado a 12 estatuetas, mas levou apenas a de melhor direção para Jane Campion.
A cineasta neozelandesa é apenas a terceira diretora a vencer o Oscar na história, depois de Chloé Zhao por "Nomadland" no ano passado e Kathryn Bigelow por "Guerra ao Terror" em 2008.
"Belfast", de Kenneth Branagh, levou o prêmio de roteiro original e Ariana DeBose venceu a estatueta de atriz coadjuvante por interpretar Anita na nova versão de "Amor, Sublime Amor", mesmo papel que rendeu o Oscar a Rita Moreno em 1962.
"Encanto" venceu na categoria filme de animação, o japonês "Drive My Car" levou a estatueta de melhor filme internacional e "Summer of Soul", dirigido pelo músico Questlove, triunfou na categoria documentário.
O filme de ficção científica "Duna" foi o mais premiado da noite, com vitórias em seis categorias, todas técnicas: design de produção, montagem, efeitos visuais, som, fotografia e trilha sonora.
A cerimônia teve três apresentadoras, as comediantes Wanda Sykes, Amy Schumer e Regina Hall.
"A Academia contratou três mulheres como apresentadoras porque é mais barato que contratar um homem", ironizou Schumer no início da premiação.
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