Jornal Estado de Minas

HOLLYWOOD

'No Ritmo do Coração' triunfa no Oscar em cerimônia marcada por tapa de Will Smith em Chris Rock

"No Ritmo do Coração", um drama sobre uma família surda, fez história no domingo ao vencer a principal categoria do Oscar, tornando-se a primeira produção de streaming a ser reconhecida pela Academia como melhor filme, em uma cerimônia ofuscada pelo momento em que o ator Will Smith agrediu o comediante Chris Rock por uma piada sobre sua esposa.



Dirigido por Sian Heder, o filme, de baixo orçamento e um remake do francês "A Família Bélier", também ganhou os prêmios de melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur.

O filme superou pesos pesados na principal categoria do Oscar e deu à Apple a tão esperada estatueta, que se destaca de rivais como a Netflix, bem como dos tradicionais estúdios de Hollywood. Mas também estabelece um marco de representação no cinema.

"Obrigado à Academia por permitir que nosso 'CODA' (nome do filme em inglês) faça história esta noite", disse o produtor Philippe Rousselet.

"Escrever e fazer esse filme foi um desafio vital como artista e como ser humano. Quero agradecer a todos os meus colaboradores da comunidade surda, da comunidade 'coda', por serem meus professores", disse Sian Heder ao receber a estatueta de melhor roteiro adaptado.

Lançado pela plataforma Apple TV+ depois de vencer uma guerra de ofertas no Festival de Sundance do ano passado, No Ritmo do Coração arrecadou cerca de US$ 25 milhões. A diretora, que, segundo especialistas, teria contado com um orçamento de US$ 10 milhões, descartou locações caras para se concentrar na história da adolescente "Ruby Rossi".



O filme estabeleceu um marco em matéria de representatividade ao apresentar um elenco autêntico, liderado pela atriz Marlee Matlin, que com décadas de carreira em Hollywood, dá vida à mãe excêntrica e vulnerável de Ruby.

O comediante Troy Kotsur, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante, interpretou o pai de Ruby, e seu irmão foi interpretado com uma poderosa atuação de Daniel Durant ("Switched at Birth").

"Queria dizer apenas que isto é dedicado à comunidade surda, à comunidade 'coda' e à comunidade de deficientes. Este é o nosso momento", expressou Kotsur com sinais, traduzido por um intérprete.

Jessica Chastain, que interpretou uma televangelista que se tornou ativista dos direitos LGBTQ em "Os Olhos de Tammy Faye", venceu o prêmio de melhor atriz.

- Família 'Coda' -

No Ritmo do Coração deixou pelo caminho o favorito, "Ataque dos Cães", de Jane Campion, o aclamado "Belfast", de Kenneth Branagh, e a nova versão de "Amor, Sublime Amor", de Steven Spielberg.

Para analistas da indústria, No Ritmo do Coração tornou-se um sucesso retumbante graças à sua perspectiva familiar e ao apostar no tradicional enredo de superação de adversidades.



Com protagonistas que esbanjam química em cena, a obra se consagrou em fevereiro, quando ganhou o prêmio máximo do prestigiado Sindicato de Atores dos Estados Unidos. O reconhecimento ao melhor elenco equivale ao prêmio de melhor filme concedido pela Academia.

"Somos um elenco tão unido que foi genial ganhar este prêmio", disse à AFP Emilia Jones, que, como Sian Heder, aprendeu a linguagem de sinais americana antes das filmagens.

A produção contratou uma equipe de consultores especializados na linguagem de sinais para traduzir o roteiro de Heder e usá-lo como elo entre o elenco. Juntos, eles escolheram gestos do vocabulário de sinais que se adaptavam melhor aos usados em Massachusetts e que poderiam ser decifrados de forma intuitiva pelo público não familiarizado.

O triunfo de No Ritmo do Coração na temporada de premiações representa um grande impulso para a Apple, que, com um grande investimento, tenta compensar sua chegada tardia à guerra do streaming, dominada por rivais como Netlix e Diney+.

- "A arte imita a vida" -

A noite mais importante de Hollywood foi marcada por um incidente que deixou todos atônitos: quando Will Smith, que no fim da cerimônia venceu o prêmio de melhor ator por "King Richard: Criando Campeãs", deu um tapa no rosto do comediante Chris Rock no palco, antes de retornar para o lado da esposa Jada Pinkett Smith e gritar obscenidades.



"Mantenha o nome da minha mulher fora da p**** da sua boca", gritou Smith, o que levou os produtores a cortar por vários segundos o áudio da transmissão pela TV nos Estados Unidos.

Ao apresentar o prêmio de melhor documentário, Rock fez uma piada comparando o cabelo de Jada Pinkett Smith com a personagem de cabelo raspado de Demi Moore no filme de 1997 "GI Jane". A esposa de Smith sofre de alopecia, condição que provoca a queda de cabelo.

Minutos mais tarde, sem conter as lágrimas, Smith recebeu o prêmio de melhor ator e lamentou que "as pessoas faltem com o respeito. Também pediu desculpas à Academia "e todos os meus companheiros indicados".

Smith, que interpreta o pai das tenistas Serena e Venus Williams em "King Richard"", acrescentou que "a arte imita a vida".

"Eu pareço o pai maluco, como falavam de Richard Williams. Mas o amor te leva a fazer loucuras", acrescentou.

"Espero que a Academia me convide de novo", disse.

Após a transmissão da cerimônia, a Academia escreveu no Twitter que "não aprova a violência de nenhuma forma", sem fazer referência direta ao incidente.



- Direção -

O western sombrio "Ataque do Cães" foi indicado a 12 estatuetas, mas levou apenas a de melhor direção para Jane Campion.

A cineasta neozelandesa é apenas a terceira diretora a vencer o Oscar na história, depois de Chloé Zhao por "Nomadland" no ano passado e Kathryn Bigelow por "Guerra ao Terror" em 2008.

"Belfast", de Kenneth Branagh, levou o prêmio de roteiro original e Ariana DeBose venceu a estatueta de atriz coadjuvante por interpretar Anita na nova versão de "Amor, Sublime Amor", mesmo papel que rendeu o Oscar a Rita Moreno em 1962.

"Encanto" venceu na categoria filme de animação, o japonês "Drive My Car" levou a estatueta de melhor filme internacional e "Summer of Soul", dirigido pelo músico Questlove, triunfou na categoria documentário.

O filme de ficção científica "Duna" foi o mais premiado da noite, com vitórias em seis categorias, todas técnicas: design de produção, montagem, efeitos visuais, som, fotografia e trilha sonora.

A cerimônia teve três apresentadoras, as comediantes Wanda Sykes, Amy Schumer e Regina Hall.

"A Academia contratou três mulheres como apresentadoras porque é mais barato que contratar um homem", ironizou Schumer no início da premiação.

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