Jornal Estado de Minas

ALEXANDRIA

'Ringo' ou 'George'?: o 'mais cruel' dos 'Beatles' do Estado Islâmico vai à julgamento

Seus reféns lembram do jihadista El Shafee Elsheikh como o membro "mais brutal" da célula especializada em sequestro e execução do grupo Estado Islâmico (EI) conhecida como "os Beatles".



Elsheikh, de 33 anos, está em julgamento nos Estados Unidos por seu papel no sequestro e na morte de reféns ocidentais na Síria.

O grupo foi apelidado de "Beatles" por seus próprios prisioneiros devido ao sotaque britânico.

Com acne e uma barba longa, El Shafee el Sheij fazia parte desde quarteto, suspeito de ter capturado pelo menos 27 jornalistas e colaboradores humanitários entre 2012 e 2015.

Os reféns os apelidaram de "Jihadi George", embora o promotor John Gibbs o tenha chamado de "Ringo" durante a abertura do julgamento.

Segundo o repórter espanhol Javier Espinosa, que passou três meses sequestrado, este homem era "o mais louco, o mais brutal". "Sentia um ódio profundo do Ocidente e dos Ocidentais".

Mohamed Emwazi, apelidado de "Jihadi John", era mais conhecido por aparecer armado com uma faca de açougueiro em vídeos mostrando execuções de reféns. Mas o carrasco, que morreu em um atentado nos EUA em 2015, "era apenas o músculo" do grupo, segundo o jornalista. "O líder era George: ele que decidia quem deveria viver ou morrer".



- Perder as estribeiras -

El Shafee el Sheij nasceu em 1988 no Sudão, mas se mudou para o Reino Unido ainda criança. Durante um tempo, esteve inscrito em um programa juvenil apoiado pelo exército britânico e se formou como mecânico.

Aos 21 anos, se casou com uma etíope que conheceu durante uma viagem ao Canadá, mas os serviços de imigração não permitiram que sua esposa entrasse no Reino Unido, segundo o site Counterextremism Project.

Abraçou rapidamente o islamismo radical. Em 2011, foi preso em frente a embaixada de Washington em Londres por participar de uma manifestação "contra as cruzadas americanas". Um ano depois, partiu rumo à Síria com Mohamed Emwazi.

Segundo a acusação, adquiriu um fuzil de assalto AK-47 e lutou pela Frente Al Nosra, afiliada da organização Al Qaeda, antes de se juntar ao Estado Islâmico.

Entre 2012 e 2015, foi "um dos chefes de uma célula especializada em sequestro de reféns" e submeteu as vítimas "a violência física e psicológica", segundo este documento.

Os reféns sofreram, segundo a justiça americana, diferentes tipos de tortura: simulações de afogamento e de crucificação, sessões de choques elétricos no torso e nas extremidades, privação de alimento e de sono, entre outras.



- "Um subordinado" -

El Shafee el Sheij era sádico: depois de filmar a execução de um prisioneiro sírio em frente de um grupo de reféns europeus, disse para um deles: "você é o próximo".

Em janeiro de 2018, o extremista foi capturado pelas forças curdas na Síria junto com Alexanda Kotey, apelidado de "Ringo". Antes de serem entregues para as forças americanas e transferidos para o Iraque, ambos deram entrevistas para meios estrangeiros.

Em uma entrevista de vídeo que permanece disponível no site do The Washington Post, El Shafee el Sheij admitiu que havia "interagido" sem "compaixão" com vários reféns, sem citar nomes.

Ainda assim, se descreveu como "um subordinado, não um líder", encarregado de obter os endereços de e-mail de parentes de reféns para negociar recompensas, mas não interrogá-los. Ele nega ter cometido atos de violência.

Em 2020, os dois homens, que perderam a nacionalidade britânica, foram transferidos para os Estados Unidos, depois de Washington se comprometeu a não pedir a pena de morte contra eles.

Alexanda Kotey se declarou culpado, com a esperança de poder cumprir parte de sua pena no Reino Unido. El Shafee el Sheij mantém que não é culpado. O júri decidirá dentro de aproximadamente um mês