Jornal Estado de Minas

LIMA

Castillo suspende toque de recolher em Lima após diálogo com o Congresso

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou na tarde desta terça-feira (5) o fim antecipado do toque de recolher diurno que havia decretado em Lima e no vizinho porto de Callao para conter os protestos.



"A partir deste momento, vamos tornar sem efeito esta imobilidade . Corresponde pedir tranquilidade ao povo peruano", disse Castillo sentado ao lado da presidente do Congresso, a opositora María del Carmen Alva.

O fim do toque de recolher foi recebido com vivas por centenas de manifestantes reunidos perto do edifício do Congresso e em outras partes de Lima, afirmando que tinham dobrado o presidente, observaram jornalistas da AFP.

"O presidente Castillo anuncia que a imobilidade está suspensa. O povo conseguiu!", tuitou Alva.

Patrulhas militares e policiais vigiavam nesta terça ruas semi-desertas de Lima, fazendo cumprir o toque de recolher diurno decretado por Castillo para conter os protestos pela alta de preços. A medida excepcional, que devia durar até a meia-noite de terça, foi rejeitada por amplos setores da população, incluindo líderes da esquerda.

"As medidas tomadas, como as que foram adotadas ontem , não são para ir contra o povo, mas para resguardar a vida dos compatriotas", afirmou Castillo, que enfrentou o primeiro protesto em seus oito meses de mandato.

As lojas estavam fechadas, as aulas suspensas, aulas suspensas e o transporte público era quase ausente na capital e no vizinho porto de Callao, onde vivem 10 milhões de pessoas, quase um terço da população peruana.



Os limenhos foram surpreendidos pela ordem de imobilização, anunciada pela televisão por volta da meia-noite por Castillo, pois os distúrbios desse dia tinham se concentrado e os mais graves ocorreram em províncias, não na capital.

"Havia informação de fonte reservada que hoje poderia ocorrer atos de vandalismo. Essa é a razão pela que tomamos esta medida", justificou o ministro da Defesa, José Gavidia.

Com cartazes com a frase "Fora Castillo" e fazendo panelaços, os manifestantes opositores se reuniram perto do Congresso, na praça San Martín, no centro, e em outros pontos da cidade.

"Estamos marchando contra as medidas de Castillo. O povo sem trabalho, com toque de recolher, estamos fartos. Esse senhor deve ir para casa", disse à AFP Nelson del Carpio, um homem de meia idade que exibia uma bandeira peruana.

A polícia e os militares não impediram as marchas de protesto, mas se limitaram a bloquear os acessos que levam à sede do Congresso.

O toque de recolher tampouco foi respeitado na manhã por muitos limenhos, que foram a seus locais de trabalho. O problema era a falta de transporte público.



Alguns turistas tinham dificuldades para comprar alimentos na cidade, pois todos os restaurantes e supermercados permaneciam fechados.

Os serviços de ônibus interestaduais foram suspensos, mas os voos domésticos e internacionais operavam com normalidade no aeroporto Jorge Chávez, disse sua concessionária.

Em outras cidades foram registrados protestos e bloqueios eram mantidos em algumas vias.

- Jogo do Flamengo confirmado -

Um jogo de futebol da Copa Libertadores entre o peruano Sporting Cristal e o Flamengo, programado com público para esta terça-feira à noite no Estádio Nacional de Lima, chegou a ficar em dúvida, mas a Conmebol anunciou pelo Instagram que será disputado.

A Conmebol informou que a partida começará às 20h locais (22h de Brasília), meia hora depois do previsto, mas não esclareceu de imediato se haverá ou não público.

O toque de recolher seguiu-se aos protestos de segunda-feira em várias áreas do Peru pelo aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos.



Em uma tentativa de apaziguar as reivindicações, o governo eliminou no fim de semana o imposto sobre os combustíveis e decretou um aumento de 10% sobre o salário mínimo, que chegará a 1.025 soles (US$ 277) a partir de 1º de maio.

Mas a central sindical CGTP, a principal do país, considerou insuficiente o aumento e pediu que seus filiados protestem na quinta-feira.

- Repúdio -

Castillo, um professor rural de 52 anos, anunciou o toque de recolher uma semana depois de evitar um processo de afastamento pelo Congresso, onde os opositores o acusam de "falta de rumo" no governo e de permitir a corrupção em seu entorno.

Também coincidiu com o 30º aniversário do autogolpe de Estado realizado pelo agora preso ex-presidente Alberto Fujimori, em 5 de abril de 1992.

A desaprovação de Castillo chega a 66%, segundo pesquisa do instituto Ipsos em março.