A eleição, que definirá o rumo da França até 2027, entra na reta final com dois candidatos com visões diferentes sobre o local da França no mundo, a transição ecológica, a migração ou o islã.
"Nada está decidido", alertou o presidente durante uma visita a Saint-Denis, um popular subúrbio do norte de Paris, embora as últimas pesquisas lhe deem uma vantagem de 6 a 15 pontos sobre sua rival de extrema-direita na votação de domingo.
Por sua parte, Le Pen partiu para a ofensiva em seu reduto no norte da França, onde em seu último comício fez acusações contra seu "arrogante" rival, que "não ama os franceses", e apresentou a decisão como um referendo: "Macron ou França?"
Além de denunciar o programa ou o balanço do adversário, os dois candidatos tentam apresentar uma imagem desfavorável do rival: Macron, como um "presidente dos ricos" e "arrogante"; e Le Pen como um "perigo" extremista se chegar ao poder.
Ambos lutam para atrair os eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que ficou às portas do segundo turno com quase 22% dos votos. Um terço votará em Macron e 18% em Le Pen, mas metade ainda não disse o que fará, segundo uma pesquisa da Steria.
Em Saint-Denis, onde Mélenchon venceu no primeiro turno, o centrista enviou uma mensagem aos habitantes dos "bairros populares", que definiu como uma "oportunidade" para o país, e atacou o programa econômico de sua rival. Sua campanha será encerrada na sexta-feira em Figeac (centro).
No debate de quarta-feira, os dois tentaram falar a esse eleitorado. O candidato do partido A República Em Marcha (LREM), de 44 anos, afirmou que a proposta da rival de proibir o véu islâmico em locais públicos provocaria uma "guerra civil" na França.
Le Pen chamou de "injustiça absolutamente insuportável" a principal proposta do atual presidente, a de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, apesar de Macron ter citado a possibilidade de mudar para 64 anos em uma tentativa de atrair eleitores de esquerda.
A viagem da candidata do Reagrupamento Nacional ao norte, segunda região mais pobre dos territórios da França na Europa, não foi trivial, pois ajudou a retomar seu eixo de campanha: o medo da perda de poder aquisitivo.
- "Reflexo republicano" -
Quase 15,6 milhões de telespectadores assistiram na quarta-feira o único debate da campanha, que repete os aspirantes do segundo turno de 2017, um milhão a menos que há cinco anos, de acordo com a Mediamétrie.
A imprensa considera que o atual presidente dominou o debate, mas que a adversária "resistiu ao golpe", ao contrário do que aconteceu há cinco anos quando Le Pen recebeu críticas por sua "agressividade" e "falta de preparo".
Para Cécile Alduy, especialista no discurso da extrema-direita, o debate teve "um presidente na ofensiva e uma candidata na defensiva". "É o contrário de uma situação normal com um presidente no cargo", acrescentou na rádio France Inter.
Após o primeiro turno, a maioria dos candidatos derrotados, com exceções como o extremista Éric Zemmour, pediram voto no centrista ou contra sua rival, ressuscitando assim uma espécie de "frente republicana", como aconteceu em 2002.
Nesta quinta-feira completa 20 anos da eleição em que o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, conseguiu, contra todas as probabilidades, chegar ao segundo turno. Mas ele foi derrotado pelo conservador Jacques Chirac com mais de 80% dos votos duas semanas depois.
Chirac se beneficiou de um cordão sanitário contra Le Pen. "A ideia da Frente Republicana", em sua forma atual, "vem deste momento", explica à AFP o historiador Jean Garrigues, para quem agora retorna um "reflexo republicano" entre os eleitores.
"O perigo de uma eleição de Marine Le Pen é muito mais forte que em 2017, quando ela recebeu 33,9% dos votos", destacou Garrigues, para quem a ideia de cordão sanitário para isolar a extrema-direita vai além dos partidos.
Atores, atletas, intelectuais, meios de comunicação, sindicatos... muitos fazem campanha para impedir a chegada de Le Pen ao poder, mas o próprio Macron considerou que a "frente republicana não existe mais".
Macron recebeu nesta quinta-feira o apoio dos primeiros-ministros socialistas de Portugal, Espanha e Alemanha, assim como do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que pediram implicitamente voto no "candidato democrata".