Como muitos eleitores de esquerda decepcionados com seu primeiro mandato, esta consultora de 40 anos, que conversou com a AFP em Nantes (oeste), confessa que votará em Macron apenas se sua rival no segundo turno liderar as pesquisas.
"Se eles nos disserem que [Le Pen] pode vencer, votaremos em Macron, mas meu coração sofrerá", explica junto ao seu marido neste histórico reduto socialista, onde o candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, se impôs no primeiro turno da eleição presidencial.
"É catastrófico o que [Macron] fez, ele tornou os pobres mais pobres e os ricos mais ricos", acrescenta Nhili.
Vinte anos após a surpreendente classificação da extrema-direita para as eleições presidenciais, a tradicional "frente republicana" já não é mais a mesma e os apelos para isolar o Reagrupamento Nacional (RN) têm menos eco.
As dúvidas são muito notáveis na ala radical da esquerda, particularmente entre o eleitorado muito cortejado de Mélenchon, que ficou às portas do segundo turno, com quase 22% dos votos no primeiro, em 10 de abril.
Seus eleitores são os árbitros de fato deste segundo turno. Em consulta interna de seu partido France Insumisa, a opção do voto nulo ou em branco obteve 37,65% de apoio. Um terço defendeu Macron e o restante defendeu a abstenção. Votar em Le Pen não foi contemplado.
Esta tendência não é surpreendente. Nesses cinco anos, Macron, eleito com a promessa de superar a divisão entre esquerda e direita, os decepcionou e a rejeição de sua pessoa é notável.
"Eu me oponho a Emmanuel Macron em tudo", diz Margot Medkour, líder de um movimento de esquerda em Nantes. "Ele não é um baluarte contra a extrema-direita, ele tem um exercício de poder muito autoritário, um desprezo muito forte pelas pessoas".
- "Nem banqueiro, nem fascista" -
"Nem banqueiro, nem fascista", lê-se num muro no centro de Foix, capital do departamento de Ariège (sul), onde Mélenchon (26,07%) foi o candidato mais votado no primeiro turno, seguido de Le Pen (23,94 %).
"Ouvi pessoas dizerem que vão se abster, que votarão em Macron para impedir a vitória de Le Pen e até que votarão em Le Pen para impedir a vitória de Macron", explica Gaëtan, um comerciante de 25 anos, que também tem dúvidas se deve se abster.
Entre outros casos, a esquerda censura Macron, ex-banqueiro e ex-ministro da Economia do ex-presidente socialista François Hollande, por reduzir o auxílio-moradia e baixar os impostos dos mais ricos.
No entanto, Macron pode gabar-se de ter salvado, pelo menos temporariamente, as empresas e empregos atingidos pela crise da covid-19 e de ter reduzido o desemprego.
Os eleitores de esquerda, no entanto, não esquecem a brutal repressão às manifestações dos "coletes amarelos" em 2018 e 2019, um protesto contra a política do atual presidente em relação às classes populares.
Nos arredores de Paris, a histórica "faixa vermelha" comunista, também é perceptível a amargura dos eleitores de esquerda.
"Todos aqui se reconheceram no programa de Mélenchon", diz Azdine Barkaoui, pai de quatro filhos na cidade de Villetaneuse, onde Mélenchon obteve 65% dos votos no primeiro turno.
Muitos moradores não têm certeza sobre votar em Macron, como fizeram em massa em 2017. Barkaoui até considera dar seu voto a Le Pen, que fez campanha sobre a questão da defesa do poder de compra e aposentadoria aos 60 anos para certos trabalhadores.
Há mais de uma década, Le Pen suaviza seu discurso para ofuscar o que seu pai Jean-Marie Le Pen, fundador do Agrupamento Nacional, construiu com discursos antissemitas e racistas.
NANTES