"Venho buscar a força do povo. Sim, vencerei", declarou na segunda-feira em um encontro com eleitores na Normandia (noroeste) a candidata do partido Reagrupamento Nacional (RN), que em 2017 perdeu o segundo turno para o liberal Emmanuel Macron por 66,1% a 33,9% dos votos.
Cinco anos depois, as pesquisa mostram que ela tem 10 pontos a mais nas intenções de voto, o que seria insuficiente para derrotar Macron. Mas seu avanço demonstra o sucesso de sua campanha em reduzir os temores sobre seu partido e demonstrar a capacidade de governar.
Caso consiga as chaves do Palácio do Eliseu, esta advogada de formação, de 53 anos, coroaria com sucesso a estratégia de apagar a imagem extremista do partido desde que assumiu, em 2011, o controle da então Frente Nacional (FN), fundada por seu pai.
Jean-Marie Le Pen conseguiu o feito de disputar o segundo turno em 2002, quando perdeu com quase 18% dos votos para o conservador Jacques Chirac, mas com a imagem de partido racista, antissemita e nostálgico da Argélia colonial.
Marine Le Pen foi afastando os membros de destaque desses setores, incluindo o próprio pai, enquanto outros cerraram fileiras com seu rival Éric Zemmour, que, segundo os analistas, busca ressuscitar a tradicional FN.
- "Simpática" -
No primeiro turno, "a mera presença de Éric Zemmour, visto como mais radical do que ela, tanto no conteúdo como na forma, reposicionou mecanicamente a imagem de Le Pen", tuitou Mathieu Gallard, analista da Ipsos France.
A candidata do RN também tem se esforça para suavizar sua imagem e deixar para trás o acalorado debate com Macron de 2017, no qual foi criticada por sua "agressividade" e "falta de preparo".
Le Pen "se faz de simpática e se aproveita disso. E, além disso, estamos acostumados com os extremos", analisou o ministro da Agricultura, Julien Denormandie, sobre o crescimento da candidata rival em sua terceira eleição presidencial.
A política nascida em 5 de agosto de 1968 em Neuilly-sur-Seine, uma cidade confortável a oeste de Paris, visita feiras, sobe em tratores e dá entrevistas íntimas... para se diferenciar de Macron, que é visto como "arrogante".
Nas entrevistas, costuma se apresentar como uma agricultora, criadora de gatos, em uma tentativa de normalizar sua imagem e solapar a "frente republicana" de partidos contra sua candidatura no segundo turno, indica um relatório da Fundação Jean-Jaurès.
De acordo com una pesquisa Steria, 57% dos franceses dizem que Le Pen provoca preocupação, contra 49% que afirmam o mesmo sobre Macron. Mas 50% acreditam que ela conhece bem os problemas da população, o dobro do registrado por seu rival centrista.
- "Fundamentos da FN" -
Em sua campanha, Le Pen se concentra nas críticas ao aumento dos preços da energia, em um contexto de temor sobre a perda do poder aquisitivo, e em garantir que não aumentará a idade de aposentadoria para 65 anos como propõe Macron, e sim reduzir para 60 em alguns casos."
"Seu programa, no entanto, pouco mudou em relação aos fundamentos da Frente Nacional, como a imigração e a identidade nacional", explicou recentemente à AFP Cécile Alduy, professora da Universidade de Standford (EUA).
Seus planos passam por reduzir a migração e combater a "ideologia islamista": reservar as ajudas sociais aos franceses, acabar com a reagrupamento familiar e proibir o véu nos espaço público, entre outras propostas.
"Mas escolheu um vocabulário diferente para justificar: em nome do laicismo e dos valores republicanos e, até mesmo, do feminismo", acrescentou Alduy, especialista no discurso de extrema-direita.
Vestida com roupas claras e com um sorriso no rosto, Le Pen escolheu se apresentar como a candidata da "paz civil" e da "unidade nacional", e busca "fazer com que as pessoas esqueçam de quão rigoroso é seu programa", segundo a Fundação Jean-Jaurès.
Marine Le Pen, conhecida por sua personalidade forte, se apresenta como uma "mulher moderna" e solteira. Esta mãe de três filhos se divorciou duas vezes, se separou de seu último companheiro e vive com uma amiga de infância a quem acolheu.
PARIS