Em um incomum artigo de opinião publicado na quinta-feira (21), os primeiros-ministros socialistas de Alemanha, Espanha e Portugal pediram, implicitamente, o voto em Macron, o "candidato democrático", porque a Europa "precisa da França ao seu lado".
Mas, afinal, o que cada candidato propõe?
- Rússia -
A ofensiva russa na Ucrânia marcou a campanha da eleição presidencial, tanto pela suposta relação privilegiada de Le Pen com o presidente russo, Vladimir Putin, com quem se reuniu em 2017, quanto pelas consequências da guerra em curso na Ucrânia no bolso dos franceses.
A candidata do Reagrupamento Nacional (RN) defende uma "aproximação estratégica entre a Otan e a Rússia", quando "um tratado de paz" tiver resolvido o conflito entre os dois países.
Le Pen parece apostar no retorno à situação geopolítica anterior à ampliação da aliança militar transatlântica para o Leste Europeu, em 1997, uma das exigências de Putin antes de lançar sua ofensiva na Ucrânia.
Depois de considerar que Putin poderia, "é claro", ser um aliado da França quando a guerra terminar, a herdeira da Frente Nacional (FN) relativizou suas declarações e garantiu que falava da Rússia, não de seu presidente.
Embora tenha condenado, em diferentes ocasiões, a "inaceitável agressão" ao povo ucraniano, Le Pen se opõe às sanções ocidentais contra a Rússia. A justificativa é sua preocupação com seu impacto no poder de compra dos franceses.
Emmanuel Macron, por sua vez, conversou com o presidente russo, inclusive após o início da invasão em 24 de fevereiro, para tentar pôr fim ao conflito. Em paralelo, aprovou as sanções europeias a Moscou.
O presidente também denuncia o envolvimento do Exército russo nos massacres de civis - Moscou nega e diz ser uma armação de Kiev -, e seu governo entregou mais de US$ 108 milhões em equipamentos militares para a Ucrânia.
Como candidato do partido A República em Marcha (LREM, na sigla em francês), Macron acusou Le Pen de "depender" da Rússia, em alusão a um empréstimo de em torno de US$ 9,8 milhões contraído de credores russos por sua legenda, em 2014.
"Não é verdade e é bastante desonesto", rebateu Le Pen na quarta-feira desta semana (20), durante o único debate presencial entre ambos, ressaltando que nenhum banco francês concedeu-lhe um empréstimo e que "não tem nenhuma outra dependência, a não ser pagá-lo".
- França e Otan -
Invocando o legado do general Charles de Gaulle, Marine Le Pen quer que a França abandone o comando integrado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), órgão que define sua estratégia militar, em nome da "soberania nacional", mas não da Aliança em si.
Durante seu mandato, Macron abalou a organização, ao questionar se estava "em morte cerebral", em um contexto de disputas internas.
A guerra na Ucrânia dissipou essas dúvidas, reorientando-a, avaliou, para sua missão original: defender a Europa de Moscou.
- UE -
Le Pen nega querer tirar a França da UE e defende sua reforma "de dentro", para que o direito interno tenha precedência sobre as leis comunitárias. Para seus críticos, isso equivale a uma saída, "de fato", do bloco.
A candidata do RN também quer criar uma "Aliança Europeia de Nações, que tenha como vocação substituir progressivamente a UE".
Assim, o motor franco-alemão do projeto europeu daria lugar a uma aliança mais ampla de países "amigos", como a Hungria de Viktor Orban, e a Polônia de Mateusz Morawiecki.
"Queremos devolver às nações, que são soberanas, mais poderes, e à UE, dar menos poderes", afirmou Le Pen, que prometeu reduzir a contribuição financeira da França para o bloco.
No sentido oposto, Macron se apresentou como o promotor de "mais Europa", seja em questões econômicas, sociais, ou de defesa, e da afirmação geopolítica da UE contra Estados Unidos e China.
- Alemanha -
A candidata do RN acusa o presidente atual de não "defender os interesses da França" contra a "hegemonia" alemã.
Embora diga "apreciar" a reconciliação franco-alemã operada após a Segunda Guerra Mundial, Le Pen pretende romper todos os acordos de cooperação militar-industrial fechados desde 2017 por Macron. Ela considera-os vantajosos para Berlim.
Para o candidato do LREM, a coordenação entre França e Alemanha continua sendo crucial para a UE, ainda mais com a saída do Reino Unido.
Neste campo, o presidente centrista se congratula por ter convencido a então chanceler alemã, Angela Merkel, a mutualizar a dívida em nível europeu para enfrentar as consequências da pandemia da covid-19.
PARIS