Os Estados Unidos, a França, a República Tcheca e outros aliados estão mandando dezenas de projéteis de longo alcance para ajudar a Ucrânia a deter a escalada ofensiva no leste da região de Donbass.
Respaldados com uma melhor defesa aérea, drones de ataque e inteligência ocidental, os aliados esperam que Kiev seja capaz de destruir uma grande parte do poder armamentício russo no confronto que se avizinha.
Depois de retornar a Kiev, onde se reuniu com chefes da Defesa ucraniana e o presidente Volodimir Zelensky, Austin disse nesta segunda-feira a jornalistas que as expectativas de Washington eram maiores.
A Rússia "já perdeu muita capacidade militar e muitas de suas tropas, para ser franco. E queremos vê-los sem conseguir replicar rapidamente essa capacidade", afirmou Austin.
"Queremos ver a Rússia debilitada a um nível que não possa fazer o tipo de coisas que tem feito ao invadir a Ucrânia", acrescentou.
- "Guerra de desgaste" -
Essa é uma mudança da abordagem inicial de Washington, quando esperava simplesmente ajudar a prevenir a tomada da capital ucraniana por parte de Moscou e a queda do governo de Zelensky.
De fato, ajudadas pelos mísseis antiaéreos e antiblindagem fornecidos pelos Estados Unidos e aliados europeus, as tropas ucranianas obrigaram os militares russos a se retirarem do norte da Ucrânia em um período de seis semanas desde o início da ofensiva em 24 de fevereiro.
No entanto, Moscou agora controla faixas do leste e do sul da Ucrânia, aparentemente com a intenção de se expandir para o centro do país enviando mais tropas e equipamentos para lá.
Seu plano, acreditam os especialistas, é usar bombardeios de longo alcance para repelir a maioria das forças da Ucrânia e, em seguida, enviar tropas e tanques para proteger o território.
A melhor opção da Ucrânia é responder com artilharia superior, apoiada por ataques aéreos de proteção, para destruir o poderio russo, de acordo com Mike Jacobson, civil americano especialista em artilharia de campanha.
Jacobson prevê que isso levará a uma "guerra de desgaste" em que a Ucrânia, com material fornecido por aliados com maior alcance e precisão, poderia deter os russos.
"Creio que a artilharia superior prejudicará a capacidade dos russos de sustentar esse combate", disse Jacobson à AFP.
Phillips O'Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade de St. Andrews, escreveu que a guerra de artilharia que se aproxima lembrará a Primeira Guerra Mundial, onde cada lado tentou derrotar o outro com bombardeios desgastantes.
O exército da Rússia "está consideravelmente menor e sofreu maior perda de equipamentos. O exército da Ucrânia está menor, mas prestes a ficar muito melhor armado", explicou.
"A Rússia precisa mudar essa dinâmica ou perderá a guerra de desgaste", acrescentou.
- Envios rápidos -
Os Estados Unidos e demais aliados estão agilizando os envios para tirar vantagem do lento reagrupamento das forças russas após sua retirada do norte da Ucrânia.
Já foram enviados à Ucrânia pelo menos 18 dos 90 itens de armamento que Washington prometeu nas duas últimas semanas, e mais serão despachados em breve esta semana, de acordo com um funcionário do Pentágono.
Washington, além disso, está entregando cerca de 200 mil cartuchos de munição de obus e está preparando munições para a artilharia feita na Rússia que está sendo usada pelas forças ucranianas.
Cerca de 50 tropas ucranianas já receberam treinamento para o uso de obuses americanas e outras mais o farão esta semana.
Enquanto isso, a França está enviando seu ultra-avançado obus móvel, Caesar, e a República Tcheca seus antigos obuses autopropulsados.
O Canadá também está enviando obuses e projéteis "Excalibur", avançados e guiados, capazes de viajar mais de 40 km e acertar com precisão o alvo.
"O combate em Donbass dependerá em boa medida do que chamamos de fogo de longo alcance, em particular de artilharia", disse um alto funcionário de Defesa dos EUA.
"É por isso que estamos focando em conseguir artilharia e veículos táticos aéreos não tripulados" para a Ucrânia, explicou o funcionário.
Ele se refere aos "drones suicidas" fornecidos pelos aliados, veículos aéreos não tripulados e armados com bombas que podem ser dirigidos por horas para buscar e explodir alvos russos.
No entanto, nada garante que uma estratégia como essa vá permitir que a Ucrânia expulse os russos.
Se Kiev prevalecer no combate de artilharia, em algum momento "obrigará (os russos) a escalar ou negociar de maneira realista", concluiu Jacobson. "A Rússia ficará frustrada, mas não derrotada."
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