A Grande Rio obteve o primeiro título de sua história ao desmistificar a divindade de origem africana Exu, figura que muitas vezes enfrenta o preconceito de grupos cristãos que a associam ao diabo.
Com imponentes carros alegóricos, coreografias e figurinos elaborados durante meses, a escola abordou as diferentes facetas de Exu, orixá dos cruzamentos e do movimento, responsável pela comunicação entre humanos e divindades em religiões como o candomblé e a umbanda.
"O desfile foi pensado para ser um grande despacho. Um choque elétrico contra todo esse horror que está aí no mundo e no nosso país. Em defesa daquilo que a gente acredita, contra o racismo religioso e o processo histórico que demonizou Exu, para cantar a vida", explicou o carnavalesco da Grande Rio, Leonardo Bora, após a vitória.
Depois de ter seus desfiles suspensos em 2021 e adiados por dois meses este ano devido à pandemia, as doze principais escolas voltaram em todo o seu esplendor e agitaram o Sambódromo por duas noites no último fim de semana, diante de um público de 70 mil pessoas.
Ao contrário de escolas de samba tradicionais como Mangueira e Portela, fundadas na década de 1920, a Grande Rio surgiu em 1988 e nunca havia conquistado o primeiro lugar na competição.
Entre os seis melhores colocados deste ano, que se apresentarão novamente no próximo sábado no Desfile das Campeãs, quase todos se posicionaram contra o racismo e a intolerância religiosa.
A Beija-Flor conquistou o segundo lugar exaltando filósofos e pensadores negros com o samba-enredo "Empretecer o Pensamento"; a Vila Isabel, quarta, homenageou o sambista Martinho da Vila; a Portela, em quinto lugar, falou sobre a ancestralidade africana e sua influência na cultura brasileira; e o Salgueiro, em sexto, inspirou-se nos protestos antirracistas desencadeados pela morte do americano George Floyd e no movimento Black Lives Matter.
A Viradouro, em terceiro lugar, relembrou o carnaval de 1919, quando os cariocas saíram às ruas em massa para comemorar o fim da chamada gripe espanhola, traçando um paralelo com a atual pandemia de covid-19.
RIO DE JANEIRO