Os oito estádios (sete novos e um reformado) já estão prontos. Mas por toda Doha, entretanto, um exército de trabalhadores migrantes corre para concluir outras tantas obras.
A Fifa se mostra "convencida de que os torcedores encontrarão condições ótimas", mas estes não têm a mesma opinião.
"Desde 1998, este é o Mundial mais complicado no plano logístico", lamenta Ronan Evain, diretor-geral da associação Football Supporters Europe, entrevista à AFP.
"O complicado é conseguir informações do comitê de organização. Há muita confusão", diz, por sua vez, o porta-voz do grupo de torcedores franceses 'Irrésistibles Français' (IF), Fabien Bonnel.
Ambos afirmam que muitas pessoas não irão ao Catar por razões logísticas e financeiras, em reação à situação dos trabalhadores migrantes ou por não quererem se sentar em um estádio climatizado
Em 2018, "na Rússia, 600 membros (do IF) assistiram a pelo menos um jogo. Para o Catar, só recebemos cerca de 100 solicitações", conta Bonnel.
Os preços dos ingressos (em média 30% mais caros em relação aos preços na Rússia), do transporte e da hospedagem estão entre as principais preocupações.
- Alta dos preços -
A 200 dias do início da Copa, é preciso gastar em torno de 1.500 euros (cerca de R$ 7,8 mil) para uma viagem de ida e volta a partir da Europa, mas muitos ainda não saberão se terão um ingresso antes do dia 31 de maio.
Enquanto habitualmente os torcedores encontram por conta própria uma solução para alojamento, a maioria dos estabelecimentos está reunida em uma plataforma oficial reservada para os detentores de ingressos.
"Até o momento, os torcedores estão vendo os preços aumentarem sem saber em que ponto vão parar", se preocupa Evain.
"O site de hospedagem é atualizado de forma constante e serão mantidas 'ações' para os torcedores que não conseguiram seus ingressos", responde à AFP o comitê organizador do Mundial.
No total, 130 mil acomodações estarão disponíveis, o que representa 3,64 milhões de pernoites, em hotéis, apartamentos, vilas, cruzeiros e acampamentos, a partir de 77 euros (R$ 400) por pessoa em um quarto duplo.
"Nas Copas anteriores se falava muito sobre atrasos nas infraestruturas. Aqui já esta tudo pronto", o que dá lugar a outras questões, afirma Danyel Reiche, encarregado de um projeto de investigação sobre o Mundial na Universidade de Georgetown no Catar.
Para Reiche, que prevê "uma bonita Copa" graças à qualidade das infraestruturas, uma questão deve ser rapidamente esclarecida "para não abalar o sucesso global do torneio": a das bebidas alcoólicas.
Seu consumo é possível em alguns bares e hotéis e os estrangeiros não muçulmanos podem comprar em lojas especializadas.
- 'Respeitar cultura' -
Existe a possibilidade, durante o Mundial, de autorizar a venda de álcool em alguns espaços e nas 'fan zones', a preço reduzido (6 euros uma cerveja, ao invés de 12 euros nos hotéis). Mas isso ainda não é oficial.
O tratamento que receberão os torcedores bêbados, se abraçando nas ruas, e os abertamente homossexuais, o que é proibido no Catar, é outra das grandes incógnitas.
Isso representa uma preocupação para muitas embaixadas dos países que disputarão a Copa, incapazes até o momento de dar conselhos a seus cidadãos que pretendem ir ao evento.
As forças de segurança estão preparadas para enfrentar os problemas potenciais ligados à embriaguez em público "de forma razoável e sensível", promete o comintê organizador, que pede que os torcedores "simplesmente respeitem a cultura conservadora do país".
Sobre a comunidade LGBT, o comitê insiste que encara "com seriedade" sua responsabilidade de organizar um torneio durante o qual "todos se sintam em segurança". A Fifa acrescenta que todos os envolvidos na organização, a começar pelas forças de segurança, estão cientes sobre o respeito aos direitos humanos..
A entidade máxima do futebol também afirma que "os símbolos de apoio às causas LGBT podem ser exibidos dentro e fora dos estádios".
Resta a questão da experiência do Catar para receber um evento desta magnitude: as dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Doha em um grande evento na última segunda-feira pegaram de surpresa os organizadores, provocando cenas de desordem, especialmente nas entradas das estações de metrô.
DOHA