As quantidades de cocaína apreendidas em portos europeus "nunca foram tão altas como nos últimos quatro anos", disse Catherine De Bolle, diretora executiva da Europol, ao apresentar o resultado de um relatório sobre a expansão do tráfico de narcóticos.
De acordo com um estudo da Europol e do Observatório Europeu de Drogas e Vícios, em 2020 foram apreendidas quantidades sem precedentes de cocaína e o continente "enfrenta uma ameaça crescente de um mercado de drogas mais diversificado e dinâmico".
Sobre a cocaína, os estudos apontam que uma parte significativa continua sendo produzida na Colômbia, Bolívia e Peru, mas que as redes diversificam o uso de portos do continente latino-americano e do norte da África em suas tentativas de fazer a droga chegar à Europa.
"Desde a abertura das negociações de paz com as FARC e o governo colombiano, (...) vimos um aumento dramático na produção de cocaína na Colômbia", disse Alexis Goosdeel, do Observatório Europeu.
Além disso, "houve uma melhora no processamento químico" e consequentemente do volume de droga produzida.
A polícia apreendeu grande parte da cocaína na Bélgica, Holanda e Espanha em 2020, os três países onde a maior parte da droga é processada antes da distribuição.
- "Ameaça crescente" -
Além da cocaína, a metanfetamina também se tornou um problema crescente.
"Em várias ocasiões, toneladas de metanfetaminas produzidas na América do Sul foram confiscadas na União Europeia. Na maioria dos casos, vinham do México", explicou De Bolle.
Desse modo, a metanfetamina, a droga estimulante sintética mais usada no mundo, desempenha um "papel relativamente menor no mercado europeu de drogas", segundo o relatório, embora os dados mais recentes sugiram uma "ameaça crescente".
A produção na Europa ocorre historicamente em pequenos laboratórios na República Tcheca e países vizinhos, mas agora também acontece em laboratórios de escala industrial na Holanda e na Bélgica.
Entre 2010 e 2020, o número de apreensões de cargas de metanfetamina na UE dobrou de 3.000 para 6.000. Nesse mesmo período, as quantidades confiscadas aumentaram 477%, atingindo 2,2 toneladas em 2020.
Na Bélgica, França, Holanda e Espanha, "a concorrência entre provedores de drogas se intensificou", o que levou a um aumento da violência, segundo os relatórios.
A nova natureza deste mercado gerou "níveis recordes de disponibilidade de drogas, aumento da violência e da corrupção e um agravamento dos problemas de saúde", aponta o estudo.
- Preocupação com o fentanil -
"A verdade, todos sabemos, é que a UE não é apenas uma área de destino no tráfico de drogas. Também é uma importante região de origem e uma região de trânsito", destacou De Bolle.
Redes clandestinas "produzem uma ampla gama de drogas sintéticas na UE, que são distribuídas em todo o mundo, incluindo, por exemplo, destinos como Austrália e Japão", acrescentou.
De acordo com a chefe da Europol, "há um número cada vez maior de laboratórios de drogas ativos na UE que produzem drogas sintéticas e, particularmente, metanfetamina".
É possível verificar um "vínculo direto" entre UE e México, já que cartéis mexicanos já atuam em território europeu, acrescentou.
"Estamos preocupados com o fentanil. Ainda não o vemos em grandes quantidades no território europeu, mas nos preocupa porque sabemos que esses cartéis [mexicanos] são responsáveis pela produção de fentanil para a América do Norte", afirmou.
O fentanil é um narcótico sintético usado na medicina pela sua capacidade analgésica, já que é muito mais forte que a morfina, e seu uso clandestino se generalizou nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos e Canadá.
BRUXELAS