"Acesso fácil? Sim, absolutamente. Em Medellín você encontra em qualquer lugar. Você pode até encontrar drogas no chão", diz à AFP Manuel Morales, um engenheiro de 32 anos que se descreve como um "usuário crônico" de basuco, um derivado da base de coca semelhante ao crack.
Trêmulo, Morales inala sua dose de um cachimbo feito de cano de PVC. Um cheiro adocicado invade a tarde ensolarada no Parque San Antonio, ponto de encontro dos consumidores da droga mais barata do mercado local. Pedestres e policiais observam.
"Fico um pouco nervoso, realmente se você se descuida perde tudo", admite o engenheiro, que até quatro meses atrás tinha emprego. Agora seus pertences cabem em uma mochila surrada, e quando ele não consegue juntar três ou quatro dólares para pagar um albergue, dorme na rua.
Sua queda começou em uma "praça do vício" onde se acumulam viciados, consumidores ocasionais e revendedores de drogas em Medellín. Há dez anos havia 160 pontos de venda de drogas, segundo a polícia, mas estudos independentes calculam que hoje o número gira em torno de 800 "praças".
- Microtráfico? -
Em 2013, 3,5% dos colombianos afirmavam ter consumido substâncias ilícitas em algum momento. Em 2019, ano do estudo mais recente, o número saltou para 9,7%, segundo o órgão de estatísticas estatal.
Com 2,2 milhões de habitantes, Medellín é a cidade com maior percentual de consumo (15,5%).
O país que mais fornece cocaína no mundo enfrenta, a portas fechadas, o "microtráfico", a venda no varejo de substâncias ilegais.
"Quando se fala em micro, pensamos em pequeno", esclarece Luis Fernando Quijano, da ONG Corpades. Mas, na realidade, se refere ao "tráfico interno de drogas, que é um negócio bilionário".
A prefeitura de Medellín calcula em até 75.000 dólares de movimentação por mês por praça, o equivalente a cerca de 300 salários mínimos.
Com o apoio dos Estados Unidos, a Colômbia iniciou uma caça às grandes quadrilhas e carregamentos, pressionando os traficantes a organizar um mercado interno de drogas baratas e de qualidade inferior.
"Gerou-se uma concentração do produto (...) que não pode ser exportada devido a essa forte política antidrogas", explica o toxicologista Juan Carlos Sánchez.
O governo de Iván Duque associa o microtráfico à insegurança urbana. Desde 2018, mais de "2.500 pessoas foram mortas" devido a disputas entre gangues, segundo o general de polícia Herman Bustamante.
Mas em Medellín os números revelam um fenômeno paradoxal. Enquanto em 1992, durante a perseguição a Escobar, a taxa de homicídios era de 350 por 100.000 habitantes, no ano passado foi de 15,5.
"Há mais paz mafiosa do que paz institucional", diz Quijano, que denuncia um "pacto" entre traficantes e algumas autoridades para que as quadrilhas não gerem mais violência em troca da possibilidade de operar.
"Quando apreensões são feitas (...) muitas vezes não é produto da inteligência (policial), mas entregas (pelos traficantes) para manter a ideia de que tudo está funcionando bem; que a estratégia de segurança funciona".
Sem revelar números, o general Bustamante ressalta que, de fato, foi constatada "a participação de policiais". Mas "enquanto tivermos consumidores (...) os criminosos verão uma oportunidade de negócio", enfatiza.
- Bronx perpétuo -
Em 2018 o então prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez, acompanhou uma operação com quase mil policiais contra o principal mercado de drogas, conhecido como "El Bronx". Cerca de 500 pessoas que compravam e consumiam drogas foram desalojadas. Quatro anos depois, continua a receber vendedores e consumidores.
Desde 2021, o governo demoliu pelo menos 129 casas de drogas.
Gutiérrez, por sua vez, é o candidato de direita para as eleições presidenciais de 29 de maio. Seu plano é endurecer o combate ao "microtráfico".
Seu principal adversário, o esquerdista Gustavo Petro, favorito nas pesquisas, trata o consumo como um problema de saúde pública.
Quando foi prefeito de Bogotá (2012-2015), montou um posto médico em frente ao "El Bronx" da capital. O programa foi interrompido quando um funcionário foi assassinado.
Em Medellín, "El Bronx" funciona 24 horas. Os jovens oferecem "blones" (cigarros de maconha), "rocas" (cocaína) e "ruedas", pílulas de clonazepam, droga psiquiátrica que causa sedação e amnésia temporária. Outras praças oferecem ecstasy e "tusi", a droga da moda feita com cetamina, mescalina e ecstasy.
Embora proibida em algumas "praças", a heroína de baixa qualidade também circula na cidade. Cada grama custa cerca de 2,5 dólares.
A pele descolorida de Julián revela seu vício nessa substância. "Antes não víamos gente se injetando na rua. Éramos poucos e muito cuidadosos", comenta.
Quando a noite cai, ele encontra seu fornecedor entra uma multidão em um parque. A transação leva segundos. Ele precisa se injetar quatro vezes ao dia para ficar "aliviado".
MEDELLÍN