Ao chegar ao Castelo de Hillsborough, nos arredores de Belfast e lugar das negociações, Johnson foi vaiado por cerca de 200 manifestantes.
"Vou julgar o que o primeiro-ministro fizer, não necessariamente o que ele diz", disse mais tarde o líder unionista do DUP, Jeffrey Donaldson.
"Quero ver o lugar da Irlanda do Norte no Reino Unido totalmente protegido e garantido", acrescentou.
Dez dias depois da histórica vitória do partido republicano Sinn Fein - ex-braço político do grupo armado IRA e partidário da reunificação da Irlanda - nas eleições legislativas regionais, as instituições da Irlanda do Norte estão paralisadas pela recusa do DUP a participar delas.
O Acordo de paz da Sexta-feira Santa de 1988, que pôs fim a três décadas de um sangrento conflito entre unionistas protestantes e republicanos católicos, impôs que ambas as partes compartilhem o poder no Executivo regional desta nação britânica de 1,9 milhão de pessoas.
Apegados ao seu pertencimento à coroa britânica, os unionistas protestam contra as disposições especiais negociadas por Londres e Bruxelas, no âmbito do Brexit, para evitar o retorno de uma fronteira física com a vizinha República da Irlanda - algo inaceitável para os republicanos - que colocaria em perigo essa frágil paz.
- Medidas unilaterais -
Para os unionistas, as disposições do "protocolo da Irlanda do Norte" ameaçam seu lugar no Reino Unido, impondo controles alfandegários sobre os produtos que chegam do resto do país.
E a líder do Sinn Fein, Mary Lou McDonald, acusou Johnson de procurar em primeiro lugar satisfazê-los.
"Apesar de toda a retórica do governo britânico sobre o restabelecimento do executivo no norte, sua prioridade é apaziguar o DUP", disse ao final de uma reunião na qual exigiu que Londres agisse para desbloquear a situação.
Nesse contexto, o governo Johnson, que há meses pede uma renegociação profunda do protocolo, pode apresentar na terça-feira um plano para suprimir unilateralmente suas partes mais conflituosas.
A ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, apresentará ao Parlamento britânico "os fundamentos de nossa abordagem", segundo um porta-voz de Downing Street.
Downing Street ressalta que o executivo "nunca sugeriu o descarte do protocolo", mas sim "reformá-lo".
A UE, que está disposta a fazer "ajustes" ao protocolo, mas não a renegociá-lo, qualificou qualquer ação unilateral de Londres como "inaceitável" e disse que pode responder com retaliação comercial.
"Espero que a posição da UE mude", disse Johnson em um artigo publicado antes de sua viagem. Caso contrário, "uma ação será necessária" para proteger o acordo de paz da Sexta-feira Santa de 1998, acrescentou.
Ao chegar a uma reunião de chanceleres em Bruxelas, o chanceler da República da Irlanda -um país membro da UE-, Simon Coveney, considerou que uma violação por parte de Londres do direito internacional é "a última coisa que a Europa precisa quando estamos positivamente trabalhando juntos contra a agressão russa" na Ucrânia.
Antes de encontrar Johnson, Michelle O'Neill, do Sinn Fein, que deve se tornar a nova primeira-ministra da Irlanda do Norte, se reuniu com o primeiro-ministro irlandês Micheál Martin em Dublin.