Com apenas uma centena de membros, segundo especialistas e autoridades, o EPP foi acusado de 74 mortes de civis, soldados e policiais desde 2008.
"Dizem que querem ajudar os pobres, que são a favor dos pobres. Mas sempre prejudicam os pobres. Não somos ricos, somos pobres. Somos trabalhadores, somos humildes", reclama Obdulia Florenciano, mãe do policial Edelio Morínigo, sequestrado há oito anos, mostrando com o marido uma foto do filho fardado.
Beatriz Denis, filha do ex-vice-presidente Óscar Denis, lamenta o destino do pai, capturado em sua fazenda em 2020 e de quem não há notícias desde então.
"Eu aceitaria qualquer coisa para ter meu pai de volta. Negocio qualquer coisa (...) Toda vez que um sequestrado volta para casa, ele não volta porque o governo o encontrou. Os sequestradores receberam resgate", afirma.
O padre Domingo Savio Ovelar, pároco de Yby-Yaú, fala do medo da população de Concepción, onde vivem cerca de 300 mil dos 7,4 milhões de paraguaios e onde atuam os membros do EPP, narcotraficantes e contrabandistas.
"Convivemos juntos e nem percebemos. Aqui não conseguimos distinguir quem é traficante, quem é assassino ou quem tem esse pensamento extremista", diz.
"Há uma ansiedade permanente. Não sabemos com o que vamos acordar", aponta.
A organização, criada por ex-seminaristas, também tem em seu poder o fazendeiro Félix Urbieta, de 73 anos, capturado em 2016 em sua fazenda.
O PPE propõe a troca dos sequestrados por dois de seus principais dirigentes: Alcides Oviedo, 52, e Carmen Villalba, 50, presos em Assunção e envolvidos no sequestro e assassinato em 2004 de Cecilia Cubas, filha do ex-presidente Raúl Cubas, quando ainda não tinham fundado o PPE.
Oviedo, condenado a 40 anos de prisão, casou-se com Villalba em 2006, quando ambos já estavam presos, mas o casal se separou em 2019. O casal tem uma filha de 15 anos que desapareceu durante um confronto com o Exército em 2020.
Duas meninas de 11 e 12 anos também morreram nesse ataque, Lilian e María Carmen, de nacionalidade argentina, sobrinhas de Carmen Villalba.
Carmen Villalba cumpriu uma primeira sentença de 18 anos por sequestro no ano passado, mas sua sentença foi estendida para mais 17 anos pela tentativa de assassinato de três policiais. Seu irmão Osvaldo Villalba lidera a guerrilha. Outra irmã, Laura, foi capturada em 2021 e processada por terrorismo.
- Catequese e independência -
O EPP, criado em 2008, concentra-se em Concepción, terra dos irmãos Villalba e seu principal local de atuação.
Trata-se de uma extensa região próxima à fronteira com o Brasil, através do Mato Grosso, onde há ricas fazendas de gado, poucas estradas pavimentadas e a presença de traficantes de drogas é comum.
Os militares mantêm postos de controle ao longo da rodovia. Helicópteros também podem ser vistos, bem como cartazes com fotos dos principais dirigentes do EPP em que são oferecidas recompensas por informações sobre seu paradeiro.
O grupo armado é um desdobramento do movimento político de esquerda radical 'Patria Libre', criado na década de 1990, com a queda da ditadura de Alfredo Stroessner, "para combater a oligarquia e lutar por uma verdadeira reforma agrária".
Os insurgentes se declaram marxistas-leninistas e reivindicam a figura do herói da independência José Gaspar Rodríguez de Francia (1766-1844).
Provenientes de famílias camponesas pobres, a maioria tem formação católica.
Oviedo foi seminarista em Assunção até ser expulso em 1992. Carmen Villalba se dedicava à assistência social na igreja desde os 16 anos.
Documentos encontrados em 2010 pelas autoridades paraguaias revelaram suas ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), desmobilizadas em 2016.
Há algumas semanas, o governo do presidente Mario Abdo Benítez obteve apoio da Colômbia em inteligência e treinamento militar para combater o EPP. Um grupo de mil soldados compõe a Força Tarefa Conjunta (FTC) que os combate.
Embora a guerrilha seja pequena, os danos que causa são grandes, alertam os militares paraguaios.
"Mesmo que restem dois terroristas, quando tiverem a oportunidade de cometer um ato terrorista, eles o farão", diz o coronel Luis Apezteguía, encarregado da FTC.
"Dizem que não fazemos nada, que o EPP é uma invenção. Enquanto isso, estamos enterrando camaradas ou transportando feridos para hospitais", afirma com uma pitada de amargura, ainda afetado pelo último ataque contra três soldados há algumas semanas.