Jornal Estado de Minas

BEZLIUDIVKA

Lágrimas e homenagens em funerais em série em cemitério militar da Ucrânia

Tristeza e lágrimas dominam neste sábado (21) a seção militar do cemitério 18 de Kharkhiv, cidade do leste da Ucrânia, à medida que chegam os caixões com corpos de soldados mortos na guerra contra a Rússia.



Dois caixões estão posicionados sobre cavaletes na necrópole, situada no município de Bezliudivka: dentro deles estão os corpos dos soldados Serguei Profotilov, nascido em 1976, e de Igor Malenkov, nascido em 1985, ambos mortos em Vilkhivka, aldeia ao leste de Kharkhiv.

Na cruz consta como data de falecimento 11 de maio passado, mas este foi provavelmente o dia em que seus corpos foram encontrados nesta localidade, palco de prolongados combates.

"Foram encontrados com outros cinco corpos que não conseguimos identificar. Suspeitamos que tenham sido executados. Foram mortos com tiros na parte de trás da cabeça", conta outro militar, que pede para não revelar sua identidade.

Não é possível averiguar mais. Só meia dúzia de soldados e o irmão de uma das vítimas assistem ao funeral, presidido por um capelão militar que recita orações e agita um incenso.

A cerimônia dura uma hora, tendo ao fundo o barulho da batalha de artilharia entre russos e ucranianos a dezenas de quilômetros dali.



Após saudações e abraços fugazes, todos se separam. O irmão de um dos soldados, a quem deram um atestado de óbito, se afasta sozinho em meio a dezenas de tumbas.

Ao mesmo tempo, chegam duas caminhonetes trazendo membros da legião estrangeira ucraniana. Uma dúzia de soldados estrangeiros apresenta suas últimas homenagens a um colega holandês, morto por fogo de artilharia.

Os legionários proíbem ser filmados ou revelar seus nomes. Não há cerimônia religiosa, apenas um curto discurso em inglês proferido por um oficial, seguido de um minuto de silêncio. Um soldado com uma bandeira britânica no colete faz uma saudação militar, outro acaricia a cruz antes de partir.

A poucos metros começa o quarto funeral do dia, quando familiares de Olexander Gaponchev, de 47 anos, morto em Tsyrkuny (ao norte da cidade), chegam ao cemitério. Muitos choram.

O quinto funeral tem início minutos depois. Inconsolável, a mãe do soldado chora sobre o caixão do filho. Começa a chover. Outra mulher, provavelmente a esposa do falecido, também chora antes de o caixão ser enterrado. Todos se lançam para jogar um punhado de terra, ao mesmo tempo em que os coveiros cobrem com pás a sepultura muito rapidamente.

Uma cruz de madeira com o nome do falecido permanecerá com testemunha na tumba. Atrás, tremulam incontáveis bandeiras ucranianas, enquanto a chuva continua a cair.