Três meses depois, as turbinas da unidade, localizada em Nova Kakhovka, na região de Kherson, sul da Ucrânia, funcionam em meio a um intenso barulho.
A instalação está intacta, a água flui e acaba no rio Dniepr.
A AFP conseguiu entrar no local em 20 de maio, durante uma visita da imprensa organizada pelo ministério russo da Defesa, sob permanente vigilância de soldados com os rostos cobertos e armados com metralhadoras.
Várias autoridades russas afirmaram que o país tem como objetivo anexar as regiões ucranianas de Kherson e Zaporizhzhia, o que permitiria estabelecer uma ponte terrestre para ligar o território russo e a Crimeia.
E a central, ainda pintada com as cores da Ucrânia, é considerada um "objetivo estratégico" delicado. Fica longe da frente de batalha, ao norte, mas os russos, que ocupam a região, temem "sabotagens".
"Houve tentativas (de sabotadores) de trazer cargas explosivas, mas todas foram frustradas", disse Vladimir Leontiev, um combatente pró-Rússia nomeado por Moscou como para comandar a administração civil e militar do distrito de Kakhovka.
Leontiev não explicou as acusações e destacou apenas apenas que o rompimento da barragem significaria "um grande infortúnio" e inundações devastadoras.
Na barragem é possível observar um grande buraco na barreira de segurança da rodovia, como se um veículo a tivesse atravessado. As autoridades não apresentaram explicações.
Construída em 1956, durante o período soviético, a hidrelétrica de Kakhovka permite enviar água ao Canal da Crimeia do Norte, que começa no sul da Ucrânia e atravessa toda a península.
Mas após a anexação de 2014, Kiev fechou a torneira. Uma medida que provocou grandes problemas de irrigação e de acesso de água na Crimeia.
As novas autoridades pró-Rússia afirmam que o abastecimento de água para a Crimeia através do canal foi retomado e que, atualmente, 1,7 milhão de metros cúbicos são enviados a cada dia para a península.
"Há muita, muita água que segue para a Crimeia. No momento, não pedimos pagamento, esta é nossa contribuição para compensar as perdas sofridas pelos ucranianos e os russos durante oito anos", afirma Leontiev.
Ele informa que todos os funcionários da central permaneceram e trabalham sem interrupção desde 24 de fevereiro. Os civis, depois de uma revista pelos soldados russos, podem utilizar a estrada que passa pela barragem e atravessa o Dniepr.
A central continua produzindo energia elétrica que está ligada à rede ucraniana unificada ucraniana e alimenta, ao mesmo tempo, as áreas controladas por Kiev e as que foram conquistadas por Moscou.
"Não podemos parar a produção de energia e seu envio à rede (ucraniana) unificada", afirma Vladimir Leontiev. "No momento é fisicamente impossível".