A Ucrânia conseguiu afastar as forças invasoras da capital Kiev e de Kharkiv, mas reconhece que enfrenta "dificuldades" para conter a ofensiva no Donbass, que inclui as regiões de Luhansk e Donetsk, já parcialmente controladas pelos separatistas pró-russos desde 2014.
"As próximas semanas de guerra serão difíceis", advertiu na segunda-feira o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou que Moscou "continuará com a operação militar especial até que se cumpram todos os seus objetivos". "Pouco importa a grande ajuda ocidental ao regime de Kiev ou a pressão sem precedentes das sanções" aplicadas contra o seu país, acrescentou.
O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, indicou que as operações militares durarão o tempo necessário.
"Não estamos com pressa para cumprir um prazo", afirmou, destacando que as tropas russas "vão cumprir os objetivos fixados pelo presidente" Vladimir Putin.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, com o objetivo declarado de "desnazificar" a Ucrânia, defender as populações de língua russa e prevenir um cerco à ex-república soviética pela Otan.
- Duas localidades sob ataque -
As tropas russas concentram atualmente seus ataques em Luhansk, um bastião de resistência no leste, e também ocupam as cidades vizinhas de Severodonetsk e Lysychansk.
O Ministério da Defesa ucraniano reportou combates próximos a essas duas cidades (cerca de 100 km a noroeste de Luhansk), nas localidades de Popasna e Bakhmut.
Ainda que os bombardeios sejam constantes, muitos habitantes se negam a partir. "Há pessoas que não querem viajar", lamenta o vice-prefeito de Bakhmut, Maxim Sutkoviy, diante de um ônibus destinado para a remoção de civis, com metade dos assentos vazios.
Aqueles que ficam, enfrentam uma rotina diária de disparos de mísseis e bombardeios que vão da madrugada ao meio-dia.
Severodonetsk, no entanto, pode ser bombardeada "durante as 24 horas do dia" pelos russos, que "utilizam a tática de terra arrasada", afirmou o governador de Luhansk, Serhiy Haiday, ao reportar quatro mortes em um bombardeio.
- 'Estado terrorista' -
O prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, acusou as "forças de ocupação russas" de se comportarem como um "Estado terrorista", ao participar por videoconferência do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça).
Depois da tomada de Mariupol (sudeste), Severodonetsk seria um valioso troféu de guerra para Moscou em Donbass.
A Rússia reforçaria assim o seu controle do leste, após estabelecer um vínculo terrestre entre o Donbass e a península da Crimeia, anexada em 2014.
O primeiro passo para essa conquista foi dado ainda nos primeiros dias da guerra, com a tomada de Kherson, no sul da Ucrânia e ao norte da Crimeia.
A frente sul atualmente parece estável, embora os ucranianos tenham relatado um "avanço" de suas divisões "na direção de Kherson, através da região de Mykolaiv".
Em Kharkiv, o metrô voltou a funcionar depois de servir por semanas como abrigo antiaéreo e onde muitos deslocados ainda estão hospedados. Enquanto isso, o governo ucraniano está pedindo aos países ocidentais que enviem mais armas.
Entre o material entregue está o sistema lançador de mísseis antinavio Harpoon, prometido pela Dinamarca, que pode ajudar a Ucrânia a romper o bloqueio contra a marinha russa no porto de Odessa, no Mar Negro. O bloqueio paralisa a exportação de milhões de toneladas de trigo, em meio a temores de uma crise alimentar mundial.
A guerra na Ucrânia fez disparar os preços da energia e está desenhando novas fronteiras no mapa de segurança na Europa, depois que Suécia e Finlândia, dois países tradicionalmente não alinhados militarmente, apresentaram suas candidaturas de adesão à Otan.
A União Europeia (UE) suspendeu as tarifas de importação de produtos ucranianos, embora pareça improvável que imponha um embargo iminente ao petróleo russo, devido à persistente oposição da Hungria.
- 234 crianças mortas -
Em três meses, milhares de pessoas, civis e militares morreram sem que houvesse um balanço preciso. Somente em Mariupol, as autoridades calculam 20.000 mortos.
A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, denunciou que 234 crianças morreram e que 433 ficaram feridas no conflito.
O governo ucraniano calcula as baixas militares russas em 29.200 homens, mas fontes militares ocidentais reduzem esse balanço para 12.000 soldados.
O Kremlin reconheceu "perdas importantes", enquanto Kiev não informa suas baixas.