A primeira versão dos escritos dessa jovem de Amsterdã, que morreu em um campo de concentração, foi publicada em 25 de junho de 1947. Chamava-se "Het Achterhuis" ("o Anexo" em holandês), apelido do apartamento arranjado atrás de uma biblioteca falsa onde a família Frank se escondia.
A tiragem original foi de 3.000 exemplares. Em 75 anos, as vendas ultrapassaram 30 milhões de cópias, de acordo com a Fundação Anne-Frank.
Em francês, duas editoras detêm os direitos deste livro mundialmente famoso: Calmann-Lévy, que o publicou pela primeira vez em 1950, e Livre de Poche (parte do mesmo grupo, Hachette), desde 1958.
Livre de Poche lançou sua "edição atualizada" em 25 de maio. E Calmann-Lévy está republicando este livro emblemático de seu catálogo em grande formato. Mesma tradução, mas duas apresentações diferentes.
"A edição francesa fez muito pela distribuição do diário", disse à AFP Philippe Robinet, diretor-geral da Calmann-Lévy, que foi a primeira editora estrangeira de Anne Frank.
"Foi uma amiga holandesa que deu o livro a Manès Sperber, um filósofo que era editor da Calmann-Lévy, e que lia holandês. Ele leu o Diário de Anne Frank e disse imediatamente: 'Vamos editar isso'", conta.
A edição alemã veio no mesmo ano, e a americana em 1952, graças a um escritor que leu a tradução francesa, Meyer Levin.
É um livro composto. Em seu esconderijo, onde permaneceu de julho de 1942 até sua prisão em agosto de 1944, Anne Frank escreveu duas versões, tradicionalmente chamadas de A e B.
A primeira é um diário infantil e adolescente na forma clássica. A segunda, o esboço de um romance epistolar bem estruturado, concebido em poucos meses pela mulher que sonhava em se tornar jornalista e escritora, e que aos 14-15 anos começava a dominar muito bem a escrita.
O pai de Anne Frank, Otto, sobrevivente dos campos, combinou elementos de ambos em uma versão C.
Sobre seu trabalho, as opiniões se dividem.
Em um artigo de 1993, um acadêmico francês especializado em diários, Philippe Lejeune, elogiou o resultado: "Otto Frank soube fazer, tanto literário quanto humano, um trabalho admirável ao concluir a reescrita e edição que Anne havia empreendido".
- "Versão definitiva" -
Por outro lado, uma amiga de infância de Anne Frank, Laureen Nussbaum, de 94 anos, sobrevivente do Holocausto que se tornou especialista nos escritos de Anne Frank, não gosta desta primeira edição. Ela o chamou de "lixo" no The Independent em 1995, preferindo a versão B.
Apenas uma editora alemã fez a aposta de se limitar a esta, com "Liebe Kitty" (208 páginas, 2019).
Os leitores de hoje podem opinar por si mesmos, desde a chamada edição "crítica" de 1986, que traz as versões A, B e C. Esta versão D tem como título em francês "Les Journaux d'Anne Frank" (765 páginas, 1989).
Surpreendentemente, ainda não tínhamos o texto completo naquele momento. Em 1991, a editora alemã Mirjam Pressler revelou trechos inéditos, no que chamou de "versão definitiva", quase um terço maior.
Não tão "definitiva" assim: um trecho inédito, descoberto em 1998, entra na versão mais recente, às vezes chamada de D2. Complementada por outros escritos e documentos, foi retida em "Anne Frank l'intégrale" (816 páginas, 2013).
Calmann-Lévy acompanhou toda a evolução. "Faz parte da nossa missão como editora, ainda mais com um livro como esse, que faz parte do patrimônio imaterial da humanidade", explica Philippe Robinet.
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