Jornal Estado de Minas

REINO UNIDO

Jubileu da rainha Elizabeth 2ª: os países que querem 'se livrar' da monarquia britânica



Este ano, enquanto a rainha Elizabeth 2ª comemora 70 anos de reinado, autoridades de alguns países da Commonwealth declararam a intenção de removê-la do cargo de chefe de Estado — embora nem todos queiram vê-la partir.





A Commonwealth é um conjunto de 53 países (mais o Reino Unido), com cerca de um terço da população mundial, em que quase todos eles já foram governados no passado por Londres, como parte do Império Britânico.

Hoje em dia a maioria deles se tornou independente do Reino Unido, mas a rainha continua sendo a soberana em 14 países da Commonwealth.

Barbados se converteu em novembro de 2021 em uma nova república, deixando de ter a rainha britânica Elizabeth 2ª como chefe de Estado.

Em outros países, existem movimentos para seguir o mesmo caminho. Mas alguns cidadãos ainda gostam da tradição da monarquia.

"Eu não poderia imaginar Belize sem a rainha", diz Jordana Riveroll. "Sinto que ela é uma parte essencial do nosso país. Desde que nascemos, ela tem sido essa figura, e ela ainda é a rainha agora, e é difícil separar isso de Belize. É muito natural."





Quase três décadas atrás, Jordana, de nove anos, e outros jovens artistas apresentaram uma dança tradicional mestiça para a rainha Elizabeth durante sua visita real em Belize em 1994.


Jordana Riveroll, Vanesa Vasquez Rancharan e Andrea Garcia-Riveroll fotografadas dançando para a rainha durante a visita real de 1994 a Belize (foto: Cortesia de Vanesa Vasquez Rancharan)

A curta visita de dois dias e meio foi vista como um grande sucesso. Estima-se que cerca de 90% da população da cidade de Belize foi às ruas para ver a monarca quando ela chegou.

"A principal coisa de que me lembro é do barulho", diz Andrea Garcia-Riveroll, prima de Jordana e dançarina que tinha 10 anos na época. "Acho que não entendi a magnitude disso e principalmente lembro que havia muitas pessoas lá. Estávamos muito nervosos."

Vanesa Vasquez Rancharan, que também tinha 10 anos quando dançou para a rainha, lembra que lhe disseram para não "estragar tudo".

"Fizemos tantas apresentações diferentes que na época eu realmente não entendia que não se tratava de um evento normal", diz ela. "Eu me lembro deles nos preparando para ter garantir que tudo fosse maravilhoso."





Os avós de Andrea ainda guardam o convite do desfile onde ela se apresentou (foto: Cortesia de Andrea Garcia-Riveroll)

As três ainda se lembram, 28 anos depois, tanto do nervosismo como dos movimentos para a apresentação que realizaram.

"Ainda me lembro de todos os passos", diz Andrea.

"Foi um dos nossos números mais populares", diz Jordana. "Dizer que a realizamos cem vezes seria subestimar. Naquele dia eu estava prestes a subir ao palco e estava muito nervosa pensando 'ok, não estrague tudo'. Assim que a música começou, os movimentos começaram a fluir e esquecemos onde estávamos."


As pessoas subiram em árvores e edifícios para ver a rainha quando ela visitou Belize pela última vez em 1994 (foto: PA Media)

O Memorial Park, na cidade de Belize ,estava cheio de convidados. Outros subiram em árvores e telhados para tentar enxergar a rainha passar.





Esse frenesi não se repetiu na mais recente visita real ao país, do príncipe William e da duquesa de Cambridge.

"Quando o príncipe William veio, houve protestos. Acho que isso não teria acontecido nos anos 90", diz Andrea. "Mas agora o debate é maior do que quando a rainha veio."

Descolonização do Caribe


Sir Colville Young (à direita) serviu por 27 anos como governador-geral de Belize, representando a rainha no país (foto: Getty Images)

No Caribe, Elizabeth 2ª é monarca em oito países. Pelo menos seis deles — incluindo Belize — expressaram o desejo de se tornarem repúblicas e removê-la como soberana.

O debate surgiu nos últimos meses, quando membros da Família Real visitaram a região para comemorar o Jubileu de Platina.

Embora haja algum apoio local para a família real, manifestantes em todos os países da Commonwealth exigem desculpas e um reconhecimento de como a família se beneficiou da escravidão.





Em Belize, Henry Charles Usher, ministro do Serviço Público, Reforma Constitucional e Política, anunciou financiamento para uma revisão abrangente de como o país é governado.

"O processo de descolonização está envolvendo a região do Caribe", disse ele ao parlamento do país. "Talvez seja hora de Belize dar o próximo passo para realmente possuir nossa independência."

Os governos de Jamaica, Bahamas, Granada, Antígua e Barbuda e São Cristóvão e Nevis traçaram medidas para remover a rainha como chefe de Estado.

Tempos de mudança

Os protestos ocorridos durante a mais recente visita real forçaram o príncipe William e a duquesa de Cambridge a cortar parte de seu compromisso oficial em Belize em uma fazenda de cacau.

Um porta-voz do Palácio de Kensington disse que a viagem foi cancelada devido a "questões delicadas envolvendo a comunidade".

Moradores da região de Indian Creek se opuseram à compra de terras pela instituição de caridade Flora and Fauna International, da qual o príncipe William é patrono, e protestaram contra sua vila sendo usada como local de pouso para o helicóptero da realeza.





Durante a visita, o primeiro-ministro de Belize, John Briceno, disse que era hora de olhar mais de perto a governança e a democracia no país.

"Nós mudamos, o tempo muda, as coisas mudam e nós seguimos em frente", disse ele. "Nós precisamos achar o ponto em que as pessoas se sintam que são os verdadeiros donos do que acontece em seu país."

Desde que Belize garantiu a independência do Reino Unido, em 1981, a população do país não teve a oportunidade de expressar como se sente em ter a rainha Elizabeth 2ª como chefe de Estado.

A Constituição não exige um referendo para removê-la. Em vez disso, é necessária uma decisão com dois terços na Câmara dos Representantes.

Lembrando 1994


A rainha viu muitas apresentações tradicionais durante sua turnê (foto: PA Media)

No entanto, na medida em que começam as festas do Jubileu de Platina na Commonwealth, Jordana, Vanesa e Andrea refletem sobre a rainha com carinho.





Todas as três são agora mães e compartilharam a história daquele dia com seus filhos.

"Falar sobre isso me lembrou de toda a experiência", diz Andrea. "Eu disse aos meus filhos: 'Vocês sabiam que eu dancei para a rainha?' Eu nunca havia contado a eles antes. Poucas pessoas podem dizer que dançaram para a rainha."

Elas dançaram juntas por cerca de cinco anos em um grupo chamado Children's Broadcasting Corporation (CBC).


As três meninas que dançaram, em imagens de hoje: Andrea (esquerda), Vanesa (canto superior direito) e Jordana (canto inferior direito) (foto: Garcia-Riveroll, Riveroll, Vasquez Rancharan)

Em seu auge, o grupo teve cerca de 50 crianças participando de diversas apresentações e com destaque em uma reportagem da Unesco.

No entanto, nenhuma apresentação foi tão grande quanto a cerimônia de boas-vindas para a rainha Elizabeth e o duque de Edimburgo em 1994.

Andrea ainda tem o tradicional vestido vermelho e branco que usava em 1994 e sua filha agora o usa para eventos culturais na escola.





Andrea Garcia-Riveroll: 'Poucas pessoas podem dizer que dançaram para a rainha' (foto: Cortesia de Andrea Garcia-Riveroll)

As três concordam que a mídia social teve um impacto nas opiniões sobre a família real de uma forma que não existia nos anos 90.

Mas, por enquanto, a rainha continua sendo uma figura proeminente no país, apesar de ter feito apenas duas visitas oficiais.

"Acho que ela contribuiu muito para Belize", diz Vanesa. "Isso é o importante, ela esteve conosco e está em nossas notas de dólar, então a vemos praticamente todos os dias. Nós nunca poderíamos esquecê-la."

Jordana concorda: "Pode ser apenas minha opinião pessoal, mas independentemente de quão presente ou não ela tenha sido, é um fator de orgulho em Belize que temos uma rainha. Pouquíssimas pessoas conseguem esse título e, em seguida, governar por tanto tempo. É realmente impressionante."





"Ela definitivamente define um novo padrão para a velhice", diz Andrea.

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