Milhares de espectadores dançam, pulam e cantam eufóricos as músicas ao vivo, algo que não acontecia há anos como resultado da complexa crise econômica que se intensificou em 2016 e parecia não ter fim.
A ressonante queda da atividade econômica devastou quase por completo a indústria do entretenimento no país, que hoje, após mais de cinco anos e um relaxamento dos controles no sistema cambial, busca ressurgir.
Os outdoors em Caracas agora exibem propagandas de peças teatrais e shows, que se esgotam rapidamente e muitas vezes levam a novas apresentações para atender à demanda.
"A questão do retorno à produção na Venezuela é dada pela moeda, a Venezuela foi dolarizada por baixo da mesa e o governo teve que aceitar a dolarização", disse à AFP Fredérick Meléndez, da produtora AGTE Live, que trouxe, entre outros, a banda colombiana Morat.
Antes, era preciso "cobrar em bolívares e recorrer ao mercado clandestino para trocar", porque era difícil acessar o sistema oficial, acrescenta Meléndez.
Em meados do ano passado, o país começou a sentir a recuperação de 6% da economia, após desmoronar 80% nos últimos anos. Os efeitos são pequenos, mas notáveis, e os consultores estimam que o crescimento continuará.
A dolarização dos salários permite que muitos paguem por ingressos que geralmente custam entre US$ 30 e US$ 500.
O salário mínimo médio no setor privado é de cerca de US$ 150, geralmente pago em moeda estrangeira, enquanto no setor público foi fixado em março em torno de US$ 25, ao câmbio atual, após um aumento de 1.700% decretado pelo governo.
A Venezuela, que chegou a exportar cantores e definir o padrão no desenvolvimento de shows, não recebia artistas internacionais desde 2016 e alguns deles receberam duras críticas por se apresentarem em meio à crise econômica e à complexa situação política.
O colombiano Maluma, por exemplo, foi condenado naquele ano por cantar em um evento gratuito promovido pelo governo do presidente Nicolás Maduro.
"Os artistas internacionais viram isso e pensaram 'como vamos festejar no meio de uma crise?' e ninguém quis vir", diz o produtor. "No final, começaram a negar a possibilidade de ir à Venezuela por uma questão ética".
Entre 2016 e 2020, a Venezuela se viu imersa em escassez generalizada, entre alimentos, remédios e combustível, misturada a protestos contra o governo e tensões políticas e depois às restrições devido à pandemia de covid-19.
O novo "boom" de shows na Venezuela está apenas decolando. O governo também promove eventos e na televisão estatal exalta o retorno desses programas, embora sem se aprofundar em tarifas ou formas de pagamento.
CARACAS