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Estado de Minas WASHINGTON

Rede clandestina de aborto nos EUA em destaque 50 anos depois


06/06/2022 14:19

Heather Booth era estudante em Chicago em 1965 quando recebeu uma ligação de um amigo em apuros. Sua irmã estava grávida, mas não estava preparada para ter um filho e estava "à beira do suicídio".

Booth ajudou a jovem a encontrar um médico disposto a realizar um aborto ilegal, conta a mulher de 76 anos em entrevista de sua casa em Washington, mais de meio século depois.

O ato se converteria em uma rede clandestina de mulheres chamada "Jane", que ajudou a interromper milhares de gestações não desejadas, de forma segura e sem estigmas, chegando a praticar, elas mesmas, 11 mil abortos.

Uma das atendidas pelo coletivo foi Martha Scott, que aos 80 anos recorda sua decisão de infringir a lei.

"Senti com muita força (...) que se estávamos praticando uma ação ilegal era porque era importante e porque não tinha como fazer legalmente", relembra Scott em entrevista por vídeo de sua casa em Chicago.

- "Comunidade solidária" -

Antes de existir o direito ao aborto em todo o país, mulheres tentavam interromper suas gestações indesejadas desesperadamente.

"Algumas tomavam alvejante, outras usavam um cabide (...) se machucavam atirando-se de escadas ou do telhado", lembra Booth.

Eleanor Oliver, ex-membro da rede, teve sorte quando recorreu a um aborto ilegal em Washington. "Foi muito profissional", comenta aos 84 anos.

Quando surgiram rumores de que Booth poderia ajudar mulheres a fazer um aborto seguro, ela passou a ser cada vez mais requisitada e outras mulheres passaram a lhe apoiar.

Em busca por discrição, elas pediam às grávidas que deixassem uma mensagem para "Jane". Assim nasceu o grupo, estabelecido como uma "comunidade solidária".

O coletivo descobriu um tempo depois que quem fazia o aborto não era um médico autorizado. Isto provocou baixas no grupo.

No entanto, outras integrantes consideraram que, se um homem sem formação aprendeu a realizar abortos de forma segura, elas também poderiam, conta Scott.

- Documentário -

Em maio de 1972, a polícia invadiu o apartamento onde funcionava o coletivo "Jane".

Scott, que estava em um dos quartos transformados em salas de cirurgia, recorda que lhe disseram: "onde está quem faz os abortos?".

"Não era qualquer um que fazia os abortos (...) éramos nós".

Ela e outras seis pessoas passaram a noite da prisão mas foram liberadas para aguardar o julgamento.

Após o caso Roe vs. Wade, as acusações contra elas foram retiradas e o grupo "Jane" se desfez.

Booth e Scott e sua colaboração para o "Jane" será tema de um documentário da HBO.

Ambas rechaçam a possibilidade de que o direito ao aborto em âmbito nacional seja revogado em uma próxima decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos.


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