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Estado de Minas PARIS

Medvedev, a transformação de um ex-presidente russo com fama de liberal e reformista


10/06/2022 08:18

Há alguns anos, ele parecia um reformista liberal, mas seu tom é cada vez mais duro desde o início da guerra na Ucrânia. Hoje, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev é, de acordo com analistas, a prova de que não é possível existir além da sombra de Vladimir Putin.

"Eu os odeio. São uns bastardos e degenerados", escreveu no Telegram na terça-feira Medvedev, que foi o presidente da Rússia entre 2008 e 2012 e primeiro-ministro entre 2012 e 2020, sem revelar a quem fazia referência: os ucranianos, os americanos ou todos os ocidentais.

"Querem a nossa morte, a da Rússia. Mas enquanto eu estiver vivo, farei tudo para que eles desapareçam", acrescentou o homem de 56 anos, agora vice-presidente do poderoso Conselho de Segurança.

O ex-chefe da diplomacia sueca Carl Bildt considerou a diatribe "significativa". "Medvedev ameaça a população ucraniana com o extermínio", tuitou.

Em 12 de maio, Medvedev advertiu na mesma plataforma que ao enviar armas à Ucrânia, os países ocidentais alimentavam indiretamente um conflito "que corre o risco de virar uma guerra nuclear em larga escala".

No dia 30 do mês passado, ele ameaçou com represálias no Ocidente em caso de ataques ucranianos em território russo com mísseis fornecidos pelos Estados Unidos.

"Os cavaleiros do Apocalipse estão a caminho e só podemos confiar em Deus", disse em uma entrevista recente ao canal Al Jazeera (Catar).

Para Ben Noble, professor de Política Russa no University College de Londres, "Medvedev tenta demonstrar sua pertinência e sua lealdade dentro de um sistema que se tornou mais beligerante e menos tolerante com as nuances".

Nascido em Leningrado (atual São Petersburgo) como Vladimir Putin, Medvedev teve uma carreira à sombra de seu mentor.

Mas este jurista, considerado um do líderes da ala "liberal" do 'putinismo', se viu marginalizado pelo avanço do clã rival dos "siloviki", formado por militares e integrantes dos serviços de segurança.

Na década de 1990, ele entrou para o Comitê de Relações Exteriores do município, então comandado por Putin, que o transferiu para Moscou em 1999.

Quando Putin foi eleito em 2000, Medvedev foi nomeado chefe do gabinete presidencial e depois vice-primeiro-ministro em 2005.

Como Putin não estava autorizado a disputar novamente o cargo devido ao limite de dois mandatos presidenciais consecutivos, Medvedev foi eleito chefe de Estado em 2008, mas colocou o mentor no cargo de primeiro-ministro.

Durante o mandato, ele teve um momento de proximidade com o então presidente americano Barack Obama, ao comer um hambúrguer com ele em um restaurante de Washington em 2010. Também expressou a vontade de redefinir a relação com os Estados Unidos.

Fã declarado do grupo americano Linkin Park, Medvedev cultivou uma imagem de governante moderno, que recebeu um iPhone de presente das mãos do fundador da Apple, Steve Jobs, durante uma viagem ao Vale do Silício ou ao criar uma conta do Twitter na sede desta rede social.

- Herdeiro de Putin? -

Na política internacional, a aproximação se traduziu com a abstenção da Rússia, e não o veto, durante uma resolução sobre a Líbia no Conselho de Segurança da ONU em 2011.

A decisão seria criticada depois, quando a Otan citou a resolução para iniciar uma intervenção militar no país do norte da África que provocou a queda do ditador Muamar Khadafi, um aliado de Moscou.

Isto provocou uma incomum discussão pública entre Medvedev e Putin.

Após o mandato de quatro anos, em 2012 ele abriu mão de disputar a presidência outra vez e trocou de papéis com Putin, que retornou ao posto de chefe de Estado e nomeou Medvedev primeiro-ministro.

A radicalização do discurso de Medvedev é semelhante a de outros líderes russos, como secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Pátrushev, ou o presidente da Duma (Câmara Baixa), Vyacheslav Volodin, ambos apresentados como possíveis herdeiros de Putin.

A pergunta que fica: Medvedev poderia aspirar outra vez à presidência, que deixou há 10 anos, agora que aumentam os boatos sobre a saúde do líder do Kremlin?

Suas chances são pequenas, porque não possui apoio nos serviços de segurança, mas "é possível tente compensar com o discurso radical atual", opina Noble, coautor de um livro recente sobre o opositor detido Alexei Navalnu.


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