A longa espera para desembarcar em Portugal motivou o premiado escritor moçambicano Mia Couto a publicar um protesto por ficar por cinco horas aguardando autorização para entrar em solo português. Ele classificou a situação como um "atentado contra a tradição portuguesa de bem receber os outros".
A nota, republicada pelo jornalista, gestor cultural e escritor Afonso Borges, no blog Mondolivro, teve grande percussão. O caso chama a atenção para o grande fluxo nos aeroportos europeus depois de mais de dois anos de restrições de viagens devido à pandemia da COVID-19.
Couto relatou o drama enfrentado por ele e outros passageitos nesse domingo, 12 de junho.
"O que se passou hoje no aeroporto internacional de Lisboa foi uma enorme afronta contra a dignidade humana. Filas quilométricas de passageiros que foram tratados como se fossem gado, obrigados a esperas que iam de quatro a cinco horas, de pé, sem a mais pequena das explicações, sem o apoio de uma cadeira, de água ou de qualquer conforto, fosse esse conforto a simples presença de alguém que atendesse os casos de pessoas com necessidades especiais. A humilhação foi distribuída por igual entre os que não tivessem um passaporte da União Européia. Jovens, mães com crianças, idosos e pessoas com deficiência foram obrigados se sentar no chão e ali esperaram até que a exaustão se converteu num imenso clamor de protesto e revolta. Vergonha, isso é uma vergonha, gritavam as pessoas."
"O que se passou hoje no aeroporto internacional de Lisboa foi uma enorme afronta contra a dignidade humana. Filas quilométricas de passageiros que foram tratados como se fossem gado, obrigados a esperas que iam de quatro a cinco horas, de pé, sem a mais pequena das explicações, sem o apoio de uma cadeira, de água ou de qualquer conforto, fosse esse conforto a simples presença de alguém que atendesse os casos de pessoas com necessidades especiais. A humilhação foi distribuída por igual entre os que não tivessem um passaporte da União Européia. Jovens, mães com crianças, idosos e pessoas com deficiência foram obrigados se sentar no chão e ali esperaram até que a exaustão se converteu num imenso clamor de protesto e revolta. Vergonha, isso é uma vergonha, gritavam as pessoas."
O escritor classificou de "a pior das recepções que um estrangeiro pode ter à chegada a um país que escolheu e pagou para visitar. Senti isso na pele, juntamente com centenas de pessoas já exaustas depois de longos voos e que, em vez de um abraço de boas-vindas, enfrentaram a humilhação de um dia que não esquecerão nunca".
A especialista em marketing Maria José Amorim, consultora imobiliária em Lisboa há seis anos, contou que os aeroportos europeus estão todos lotados. Ela atribui à vontade de viajar da população que ficou privada desse lazer por tanto tempo.
"A Europa está vivendo uma explosão turística, todos os aeroportos estão absurdamente lotados. Um amigo foi para Amsterdã (Holanda) e publicou na rede que a fila de espera era de 4 horas. Outra amiga reclamou de um dos aeroportos de Paris lotado, malas perdidas, um caos."
Maria José contou que o aeroporto de Lisboa é muito antigo e não comporta o volume de passageiros. Ele não é ampliado desde o governo Salazar (5 de julho de 1932 - 27 de setembro de 1968) e está em área urbana. "Há uma discussão sobre novo aeroporto que se encontra só no papel há anos."
Ela lembrou um caso ocorrido no ano passado, quando um viajante originário da África foi abordado de forma truculenta pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEG) e acabou morrendo. A forte repercussão fez com que o governo português decretasse a extinção do serviço que está sendo desarticulado e passará para outra instância. "Enquanto isso, o número desses agentes aeroportuários é insuficiente", explica a especialista.
Segundo um turista basileiro que não quis se identificar, o acúmulo era previsto devido ao iníco do verão com os milhões de pessoas passaram a viajar assim que acabaram as restrições da pandemia. Em toda parte, aviões estão voltando da aposentadoria precoce, funcionários da aduana e da policia de fronteira estão sendo chamados de volta, mas não estão dando conta. O aeroporto de Lisboa é um hub europeu para a América do Sul e a África.
Lotação em vários aeroportos
A jornalista Hélia Ventura postou em sua conta no Facebook sua impressão sobre um rigor maior na fiscalização dos aeroportos europeus.
"Não sei se é só impressão, mas achei que a fiscalização sobre o trânsito de turistas endureceu muito nos aeroportos da Europa. Enfrentei cinco na semana passada e percebi que a passagem pelo controle de bagagem, por exemplo, está extremamente rigorosa, com os pertences de mão sendo esmiuçados como nunca tinha visto, agentes agindo como cães farejadores e usando detectores de tudo quanto é tipo. Não tive problema algum, mas vi acontecendo com outras pessoas. Muito estressante."
"Não sei se é só impressão, mas achei que a fiscalização sobre o trânsito de turistas endureceu muito nos aeroportos da Europa. Enfrentei cinco na semana passada e percebi que a passagem pelo controle de bagagem, por exemplo, está extremamente rigorosa, com os pertences de mão sendo esmiuçados como nunca tinha visto, agentes agindo como cães farejadores e usando detectores de tudo quanto é tipo. Não tive problema algum, mas vi acontecendo com outras pessoas. Muito estressante."
A ANA - Aeroportos de Portugal, autoridade dos terminais portugueses informou que "voltamos, infelizmente, a assistir a tempos de espera elevados que ultrapassaram as três horas na área das chegadas do aeroporto de Lisboa devido à insuficiência de recursos e de postos de controlo de fronteira SEF em funcionamento".
Segundo informações da agência, o Aeroporto Humberto Delgado apresentou em 2021 um movimento de 12.147.792 passageiros, com 217.703 movimentos de pouso e decolagem, atendendo a 21 linhas.