O Comitê de Política Monetária do Fed se reunirá nesta terça e quarta-feira, e o mercado dá por certo um aumento das taxas básicas de juros em meio ponto percentual, similar à decidida na última reunião do organismo.
Mas muito especulam sobre um aumento maior, de 0,75 ponto percentual ou 75 pontos básicos, e isso deixa os mercados inquietos. Se ocorrer, seria a primeira vez desde 1994.
"Os mercados começaram a levar em conta o risco (de um aumento) de 75 pontos-base durante a reunião" desta semana, disse à AFP Shaun Osborne, do Scotiabank.
A razão? A inflação pareceu recuar timidamente em abril, fazendo crer que o pior havia passado.
Mas um dos índices da inflação para maio, publicado na sexta-feira passada, deu um choque de realidade, com um novo recorde em 40 anos do aumento de preços em 12 meses, que se situou em 8,6% na medição do índice CPI, que considera os preços ao consumo.
O Fed, no entanto, privilegia o índice PCE, que é publicado mais adiante no mês seguinte à medição, e que também teve uma queda nos dados em 12 meses até abril, situando-se a 6,3%, ainda muito acima dos 2% que o banco central considera saudáveis para a economia.
Shaun Osborne mostrou-se cético sobre a possibilidade de uma forte alta, que poderia gerar pânico nos mercados. Mas, "evidentemente é um risco", advertiu.
Na sexta-feira, um quarto dos agentes do mercado esperava um forte aumento de 0,75 ponto das taxas básicas de juros, e três quartos apostavam em um aumento de 0,50 ponto, segundo o CME Group. No sábado, apenas 3,6% dos consultados acreditavam que o Fed elevaria suas taxas em 75 pontos-base.
Nesta segunda, Wall Street abriu em forte queda diante da eventualidade de um aumento das taxas de juros maior do que o esperado.
- Mais provável em setembro -
"Alguns acreditam que o Fed poderia propor um aumento surpresa de 75 pontos (básicos) na reunião de junho. Nunca se deve dizer nunca nestas circunstâncias, mas achamos que isso é pouco provável", relativizou Krishna Guha, economista da Evercore, empresa de assessoria de investimentos.
"Se o Fed abrir a possibilidade de uma movimentação de 75 pontos (...), será mais provável em setembro", acrescentou.
Ao elevar as taxas básicas de juros, o Fed leva os bancos comerciais a aumentarem suas próprias taxas para créditos a seus clientes, com o objetivo frear o consumo.
"O Fed deve reduzir a demanda para responder a um aumento no qual a oferta é limitada", comentou em um tuíte a economista Diane Swonk, da Grant Thornton.
Em março de 2020, o Fed seguiu o caminho contrário e reduziu suas taxas praticamente a zero para sustentar a economia e o consumo, motor do crescimento nos Estados Unidos, diante da expansão do coronavírus.
As taxas de juros foram mantidas entre 0% e 0,25% durante dois anos. A primeira alta ocorreu em março de 2022 e foi de um quarto de ponto percentual.
Atualmente estão em 0,75-1,00%.
- Conter o risco de recessão -
O Fed deve fazer um delicado exercício de equilíbrio para frear as altas dos preços sem afetar demais o crescimento econômico.
"Quanto mais os consumidores gastam, mais o Fed deve ajustar sua política (monetária). Isso aumenta o risco de recessão", adverte Yelena Maleyev, economista também da Grant Thornton.
O presidente do Fed, Jerome Powell, reuniu-se em meados de maio na Casa Branca com o presidente Joe Biden, para uma entrevista pouco habitual dedicada à inflação.
Em primeiro de junho, o Fed começou a reduzir seu estoque de ativos, depois de injetar liquidez no mercado durante a pandemia, através de compras de títulos da dívida.
Ao final da reunião de quarta-feira, o Fed vai atualizar suas previsões de inflação, crescimento e desemprego.
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