Esta localidade industrial de 100.000 habitantes e sua vizinha Lysychansk, separadas pelo rio Donets, estão há várias semanas sob fogo das tropas russas, que pretendem tomar o último reduto de Kiev em Lugansk, uma das duas regiões que ao lado de Donetsk forma a bacia de mineração do Donbass.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que o custo humano da batalha "é muito elevado, simplesmente aterrorizante", mas se mostrou confiante em conseguir mudar a situação caso o país receba mais armas dos ocidentais.
"Só precisamos de mais armas para garantir tudo isso", afirmou Zelensky. "Nossos aliados têm as armas", completou.
O governo dos Estados Unidos já começou a entregar armas pesadas para a Ucrânia e o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, presidirá na quarta-feira uma reunião do Grupo de Contato para a Ucrânia em Bruxelas, onde será discutida uma possível aceleração do fornecimento.
O conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podolyak listou na segunda-feira as necessidades de suas tropas, incluindo obuses, tanques e veículos armados.
"Sendo diretos: para terminar a guerra precisamos de armas pesadas", escreveu no Twitter.
No campo diplomático, a União Europeia (UE) deve anunciar em uma reunião de cúpula nos dias 23 e 24 de junho se concede à Ucrânia o estatuto de candidato a integrar o bloco.
- Militares ucranianos "resistem" -
Para a Rússia, controlar Severodonetsk abriria o caminho para avançar em direção a outra grande cidade do Donbass, Kramatorsk, um passo importante para conquistar toda esta região que já está parcialmente sob controle de rebeldes apoiados por Moscou desde 2014.
"Os russos tentam cercar os ucranianos em Severodonetsk, Lysychansk e em algumas localidades próximas, como Pryvillia e Borivske", disse o governador de Lugansk, Serguei Gaiday. De acordo com ele, as forças de Moscou receberam reforços de "dois grupos de batalhões táticos".
"A situação é muito grave", acrescentou o governador, que na segunda-feira admitiu que as forças ucranianas foram expulsas do centro de Severodonetsk após semanas de resistência.
Oleksandr Striouk, prefeito de Severodonetsk, informou a destruição de uma terceira ponte que ligava a cidade com Lysychansk após "bombardeios em larga escala", mas afirmou que a cidade não está isolada. "Há canais de comunicação, mas são complicados", disse.
"As tropas russas não abandonam a tentativa de controlar a cidade, mas os militares resistem", acrescentou.
O prefeito também informou que "540 a 560 pessoas" estão refugiadas nos túneis subterrâneos da fábrica de produtos químicos Azot, que foi bombardeada.
A entrega de suprimentos é "difícil", mas há "algumas reservas" na fábrica, disse. "O inimigo está destruindo nossa maior empresa", acrescentou.
O exército russo anunciou que pretende organizar um corredor humanitário na quarta-feira para os civis entrincheirados na fábrica Azot.
"Guiados pelos princípios da humanidade, as Forças Armadas russas e as formações da República Popular de Lugansk estão prontas para organizar uma operação humanitária para a retirada de civis", afirmou o ministério da Defesa russo, que também indicou que os civis serão transportados para a região separatista de Lugansk.
Em Lysychansk, os danos são imensos e a cidade está sem fornecimento de água potável, energia elétrica e cobertura de telefonia.
A artilharia ucraniana aproveita a posição elevada da cidade para atacar as tropas russas que tentam assumir o controle de Severodonetsk, do outro lado do rio.
- Crítica do papa -
O papa Francisco, que já fez diversos apelos à paz desde o início do conflito, condenou a "brutalidade" das tropas russas contra um povo ucraniano "corajoso".
"O que vemos é a brutalidade e a ferocidade com que esta guerra está sendo travada pelas tropas, geralmente mercenárias, utilizadas pelos russos. Os russos preferem enviar chechenos, sírios, mercenários", lamentou Francisco.
Além do Donbass, os combates também acontecem no sul da Ucrânia. O comando sul das tropas ucranianas relatou batalhas aéreas e ataques de helicópteros russos contra posições ucranianas em Mykolaiv e Kherson.
Em Mykolaiv, um importante porto no estuário do Dnieper, o avanço russo parou nos arredores da cidade e o exército ucraniano cavou trincheiras na região.
Os ucranianos temem que os russos organizem em breve um referendo na região de Kherson, perto da península da Crimeia, e em outras áreas ocupadas pelas forças russas, visando a anexação à Rússia.
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