Brasília – O economista e ex-guerrilheiro de esquerda Gustavo Petro, de 62 anos, foi eleito presidente da Colômbia. O resultado da apuração dos votos foi divulgado na noite de ontem. Petro venceu Rodolfo Hernández em segundo turno das eleições presidenciais do país, por uma vantagem de cerca de 717 mil votos. Ele sucederá o impopular presidente conservador Iván Duque, que por lei não pôde se candidatar à reeleição. A advogada e ativista ambiental Francia Márquez, de 40, que compõe a chapa vencedora, será a primeira vice-presidente negra do país.
Com a promessa de democratizar o país, o economista teve 50,49% dos votos, contra 47,25% de Hernández, segundo informações do órgão de contagem de votos nacional. Cerca de 22 milhões de colombianos foram às urnas para eleger o novo presidente neste domingo.
“Hoje é um dia de festa para o povo. Que festeja a primeira vitória popular. Que tantos sofrimentos sejam absorvidos pela alegria que hoje inunda o coração da pátria. Essa vitória é para Deus e para o povo e sua história. Hoje é o dia das ruas e das praças”, disse o presidente eleito, após a divulgação dos resultados. Esta é a terceira vez que o candidato concorre ao Palácio de Nariño, sede do governo colombiano.
Em uma publicação nas redes sociais, Petro agradeceu a confiança do povo colombiano. “Obrigado Colômbia! A mudança veio para nos unir por um único sentimento, o amor pelo nosso país. Chegou a hora de acabar com a desigualdade, chegou a hora da educação, do meio ambiente e das oportunidades. Chegou pela primeira vez um governo do povo e para o povo. Eu te amo muito”, disse o presidente eleito.
O magnata do setor de construção Rodolfo Hernández reconheceu a vitória de Petro menos de uma hora depois da divulgação do resultado. “Colombianos, hoje a maioria dos cidadãos escolheu o outro candidato. Como eu disse durante a campanha, eu aceito os resultados dessa eleição”, disse em um vídeo publicado em redes sociais.
OBSTÁCULOS Analistas políticos explicam que o governo Petro terá dificuldades de governar. Apesar de ter conquistado força no Congresso, a centro-esquerda possui apenas 35% das cadeiras do congresso. Mais da metade está nas mãos da centro-direita tradicional do país.
Gustavo Petro se define como um “rebelde moderado” e atrai desconfiança entre os conservadores, os pecuaristas e uma ala do empresariado e do militarismo. Além de descartar a estatização da propriedade privada, ele propõe interromper a exploração de petróleo, transitar a economia para uma energia mais limpa, ampliar a produção de alimentos e reformar as regras de promoção dentro das forças militares.
“A mudança que propomos hoje é derrubar esse regime de corrupção, tirar o ladrão e o assassino do poder”, disse Petro em um evento político em 16 de maio, numa referência ao sistema político colombiano.
Da guerrilha à Casa de Nariño
O novo presidente colombiano nasceu em 19 de Abril de 1960, na cidade de Ciénaga de Oro, na província de Córdoba, em uma família de classe média. Aos 10 anos de idade, exatamente, assistiu a uma eleição marcada por denúncias de fraudes por parte dos conservadores, que culminou no surgimento do grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril (M-19).
A trajetória política de Petro começou 7 anos depois, quando se juntou ao M-19. Em 1985, o jovem político foi preso por posse ilegal de armas. Ele conta que, na época, foi torturado pelo exército. Nos dias 6 e 7 de novembro de 1985, o M-19 grupo invadiu o Palácio da Justiça e fez mais de 300 pessoas reféns durante 28 horas. A ação deixou mais de 100 mortos, incluindo o presidente da Suprema Corte, Alfonso Reys. Petro não participou do ataque porque estava preso.
Em 1990, Gustavo Petro participou da transformação do grupo guerrilheiro em um partido político, a Aliança Democrática M-19. A legenda teve grande atuação na Constituição Colombiana de 1990. No ano seguinte, foi eleito deputado pela primeira vez. O segundo mandato veio em 1998. Desta vez, em um novo partido, que ele fundou juntamente com ex-integrantes do M-19.
Em 2010 foi eleito o terceiro senador mais votado. Gustavo Petro dedicou a carreira política a denunciar a corrupção e revelar esquemas políticos com facções criminosas, o que conquistou o eleitorado e o tornou um dos parlamentares mais populares da Colômbia.