Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Vítima de abuso nos EUA pode pedir absolvição por matar seu agressor

Uma jovem americana que responde na justiça por homicídio poderá pedir sua absolvição sob o argumento de que sua vítima a explorava sexualmente, segundo uma sentença judicial conhecida nesta quarta-feira (6) em um caso que atrai as atenções nos Estados Unidos.



Em junho de 2018, Chrystul Kizer, então com 17 anos, atirou e matou Randall Volar, de 34, e depois ateou fogo na casa dele em Kenosha e roubou seu carro.

A jovem afro-americana explicou que "já tinha tido o bastante com suas apalpações".

O homem era investigado, então, por abuso sexual de menores e a polícia tinha descoberto vídeos pornográficos na casa dele, especialmente de Kizer.

Depois, a jovem contou ao jornal The Washington Post que o homem lhe pagava por sexo, uma atividade que no Winsconsin é considerada "tráfico sexual de menores".

Kizer, no entanto, foi acusada de homicídio, uma acusação que automaticamente leva à prisão perpétua nesse estado.

Nesse momento, 1,5 milhão de pessoas assinaram uma petição online para encerrar o caso porque a jovem matou Volar em legítima defesa.

Em 2020, um fundo chegou a arrecadar 400.000 dólares para que ela fosse solta sob fiança. No entanto, o caso empacou.



O advogado de Kizer invocou desde o começo a lei estadual que isenta as vítimas de "tráfico sexual de menores" quando cometem crimes "diretamente" relacionados com os abusos.

Para os promotores, no entanto, o homicídio não foi "resultado direto" da violência contra a jovem, mas foi planejado para roubar o carro de Volar.

A Suprema Corte do Wisconsin finalmente deu a Kizer uma primeira vitória nesta quarta.

"O tráfico de pessoas pode aprisionar as vítimas em um ciclo de abuso aparentemente interminável durante meses ou até anos", descreve a sentença.

"Um crime imprevisível ou que ocorra imediatamente depois do abuso pode ser consequência direta do tráfico, desde que exista uma conexão lógica entre ambos", proferiu a corte em um texto aprovado por estreita maioria.

Kizer agora tem a autorização da Corte para apresentar este argumento de defesa no julgamento.