Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Elon Musk, um carrasco das elites ou um pragmático egoísta?

Ele desprezou os sindicatos, subestimou o politicamente correto e abraçou a ideia de um governo com poder limitado. Portanto, os conservadores podem agora estar decepcionados por sua retirada do acordo de compra do Twitter.



De todo modo, como um cara que fuma maconha durante as entrevistas, flerta com Hollywood fazendo aparições em filmes e pondera sobre a destruição de Marte, não parece provável que seja adotado como talismã pelos políticos tradicionais.

Em um Estados Unidos polarizado, a oposição do magnata de 51 anos às restrições à covid-19 é muitas vezes vista como um sinal de simpatia pelo lado republicano, apesar de ter dado sinais que sugerem o contrário, como o seu desdém pelas medidas draconianas de controle de imigração.

O homem mais rico do mundo criticou o presidente Joe Biden por propor um crédito fiscal para carros elétricos feitos por trabalhadores sindicalizados. Também foi mais longe ao pedir o fim de todos os subsídios federais dos EUA.

No entanto, buscou energicamente o apoio do governo e recebeu bilhões em pagamentos para suas próprias empresas.

O investidor internacional James Hickman, fundador do boletim de estilo libertário Sovereing Man, vê em Musk um freio à "tirania das minorias", uma espécie de nicho de elites tecnológicas, midiáticas e acadêmicas que tomam decisões pelo resto da sociedade e "estão constantemente equivocadas".



"O que torna alguém um verdadeiro libertário é uma rejeição absoluta de rótulos e ser completamente independente em seu pensamento", disse Hickman à AFP.

"Musk claramente se enquadra nessa categoria, tanto política quanto profissionalmente", acrescentou.

Outros analistas sugeriram que, por mais inconsistente que sua filosofia política possa parecer, Musk raramente contradiz seus próprios interesses nos negócios.

Suas doações políticas também não se inclinam particularmente a um partido ou ponto de vista.

Autoproclamado independente "moderado", mas também autoproclamado "socialista", em 2020 Musk se mudou da super liberal Califórnia para o Texas, estado profundamente conservador. Fez doações para governos em ambos os estados, apesar de criticar as leis antiaborto do Texas e o ambiente de negócios "complacente" da Califórnia.



- Liberdade de expressão? -

Outras doações foram feitas a grandes personalidades democratas, como Hillary Clinton e Barack Obama, ao líder da minoria republicana na Câmara Baixa, Kevin McCarthy, e ao próprio Partido Republicano.

Musk, no entanto, não vê problema em atacar figuras do poder de Washington nas redes sociais, como fazia Donald Trump, inclusive contra a ex-candidata presidencial Elizabeth Warren e o próprio Biden.

Além disso, fala muito da liberdade de expressão, que descreve como "a base de uma democracia funcional".

Musk reclamou que o Twitter faz muita censura em sua regulamentação do discurso, ao mesmo tempo em que contradiz seu argumento ao caracterizar em um tuíte o CEO da empresa, Parag Agrawal, como o brutal ditador soviético Joseph Stalin.

Os críticos dizem que sua paixão por discussões sem filtros muitas vezes parece mais superficial quando seus próprios interesses estão em jogo.

Alguns veículos de comunicação se preocupam com a reação de Musk às reportagens críticas da Tesla. O bilionário foi acusado de mandar seu exército de seguidores contra jornalistas.



"Vou criar um site onde o público possa avaliar a veracidade de qualquer artigo e acompanhar a pontuação de credibilidade ao longo do tempo de cada jornalista, editor e publicação", tuitou em 2018. A iniciativa não deu em nada.

- Isenção de impostos -

Judd Legum, um ex-funcionário da campanha de Hillary Clinton que publica o boletim político "Popular Information", apontou para um tuíte, também de 2018, no qual Musk parecia ameaçar rescindir as opções sobre as ações dos funcionários da Tesla se eles decidissem se sindicalizar.

Os críticos dizem que esse comportamento faz parte de um padrão no qual suprime vozes menos poderosas e que se reflete na inclusão de acordos de confidencialidade (NDAs) notoriamente restritivos para os trabalhadores assinarem.

Um desses acordos supostamente alertava os funcionários de que eles "não tinham permissão para falar com a mídia sem autorização explícita por escrito", mas a empresa esqueceu de alertá-los que a lei os protegia de retaliação quando as condições de trabalho estavam sendo negociadas.

Baruch Labunski, especialista em marketing online e consultoria web, diz que em meio a tantas "evidências conflitantes", seria mais seguro descrever a política de Musk como "pragmática".

"Ele é frequentemente classificado como um libertário, mas essa designação não descreve com precisão o homem cujos negócios se beneficiaram de isenções fiscais e subsídios comerciais do governo", disse Labunski à AFP.

O consultor vê Musk como uma celebridade "fundamentalmente egoísta".

"Musk pode brincar na política porque é rico e franco", concluiu.

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