Jornal Estado de Minas

BERLIM

Denunciante dos 'Panamá Papers' garante que Rússia quer vê-lo morto

Um informante anônimo que vazou informações confidenciais que deram origem aos "Panamá Papers", que denunciaram um amplo sistema de evasão e fraude fiscal em todo o mundo, garante que a Rússia quer vê-lo morto, em entrevista publicada neste sábado (23) pela Der Spiegel.



Entrevistado pela primeira vez desde as primeiras revelações em 2016 pela revista, ele afirma ter evidências de irregularidades financeiras cometidas por altos funcionários russos e seus aliados, que ajudaram a financiar a guerra na Ucrânia.

"As empresas de fachada que financiam o exército russo são as que matam civis na Ucrânia, enquanto os mísseis de Putin atingem shopping centers", disse Jhon Doe, pseudônimo usado pelo denunciante. Essas corporações "tornam esses horrores possíveis e muito mais", continua ele.

Para Doe, o presidente russo Vladimir "Putin é uma ameaça maior para os Estados Unidos do que Hitler, e as empresas de fachada são seus melhores amigos".

Ele também revelou que teme qualquer retaliação da Rússia. "É um risco com o qual vivo, já que o governo russo expressou o fato de que me quer morto", disse ele.

De acordo com o denunciante, o canal estatal russo RT transmitiu um documentário de dois capítulos sobre os "Panamá Papers" em que o personagem 'John Doe' apareceu ferido na cabeça após ser torturado.

"A mensagem não foi sutil. Já vimos como outras pessoas ligadas a contas offshore e submetidas a processos judiciais por tributação irregular recorrem ao assassinato", ressalta.



Como prova, destaca as mortes dos jornalistas Daphne Caruana Galizia e Jan Kuciak, dois jornalistas investigativos assassinados em Malta e na Eslováquia.

"Os Panamá Papers envolvem tantas organizações criminosas transnacionais, algumas delas ligadas a governos, que é difícil imaginar o quão seguro seria revelar a identidade", considera o denunciante, que prefere permanecer anônimo.

O "Panamá Papers" é a maior investigação jornalística sobre documentos financeiros revelada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Esses vazamentos levaram à renúncia do primeiro-ministro islandês e abriram caminho para a destituição do líder paquistanês.