"Sombras russas sobre a crise política" na Itália, foi a manchete do jornal La Stampa nesta quinta-feira, ao abordar a delicada questão.
A queda do governo de unidade nacional liderado por Draghi em 14 de julho, depois de perder o apoio parlamentar de três de seus aliados, Liga, Forza Italia (direita moderada) e o Movimento 5 Estrelas (antissistema), desencadeou uma série de dúvidas.
Segundo o La Stampa, um diplomata da embaixada russa se reuniu no final de maio, em Roma, com um colaborador próximo a Matteo Salvini para discutir a situação política.
"O diplomata, que insinuou um possível interesse russo em desestabilizar o equilíbrio dentro do governo italiano com esta operação, perguntou se os ministros da Liga também apresentariam sua renúncia ao gabinete de Draghi", informa o jornal, que se baseia em um "documento dos serviços de inteligência".
A reunião ocorreu enquanto Salvini era acusado de organizar uma espécie de diplomacia paralela, com reuniões na embaixada russa, aparentemente para traçar um plano de paz entre a Rússia e a Ucrânia, sem nunca ter informado o governo italiano.
A embaixada também havia facilitado a compra de passagens aéreas para Salvini e outros membros da Liga, para viajarem a Moscou no dia 29 de maio, visita posteriormente cancelada.
O Kremlin nega qualquer interferência na política italiana. No entanto, muitos políticos italianos exigiram explicações de Salvini após as revelações do La Stampa.
"Queremos saber se foi (o presidente russo, Vladimir) Putin que derrubou Draghi", declarou o líder do Partido Democrata, Enrico Letta.
Por sua parte, Matteo Salvini respondeu com ironia: "a esquerda dividida e desesperada (...) se dedica em buscar fascistas, russos e racistas que não existem", comentou para a Rádio24.
"Somos pró-europeus e atlantistas, mas isso não quer dizer que não possamos ter boas relações com Putin. A guerra acabará cedo ou tarde e quem errou pagará", acrescentou.
A embaixada russa não quis comentar. Os vínculos entre Salvini e Moscou são muitas vezes controversos, especialmente desde a invasão russa da Ucrânia, o que pode pesar à luz das eleições legislativas de 25 de setembro.
A coalizão de direita, formada pela Liga, pelo partido Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e pela extrema-direita Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), aparece como a favorita em todas as pesquisas.
ROMA