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Estado de Minas TÓQUIO

Assassinato de Abe chama atenção para relações entre políticos japoneses e a seita Moon


29/07/2022 10:24

O assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe por um homem ressentido contra a Igreja da Unificação, conhecida como a seita Moon, destacou os laços políticos dessa organização controversa.

Segundo a polícia, Tetsuya Yamagami atacou Abe por acreditar que ele apoiava um "certo grupo" para o qual sua mãe havia feito grandes doações.

Em carta publicada pela imprensa local, Yamagami acusou Abe de apoiar a Igreja da Unificação, que por sua vez confirmou que a mãe do assassino era uma de suas seguidoras.

Ex-apoiadores, advogados e acadêmicos que estudam a seita Moon dizem que os detalhes relatados sobre a família de Yamagami se encaixam em um padrão comum no Japão.

A mãe de Yamagami supostamente se juntou à igreja após o suicídio de seu marido e foi rapidamente absorvida por sua fé.

Um tio de Yamagami disse à mídia local que seu sobrinho às vezes o chamava para pedir ajuda quando sua mãe deixava as crianças sozinhas e sem comida para ir à igreja. Ela doou 100 milhões de ienes (na época cerca de US$ 1 milhão) para a igreja e depois entrou em falência.

Tudo isso soa familiar para o advogado Hiroshi Yamaguchi, que representa ex-membros da igreja.

"Os membros são pressionados todos os dias para doar", disse ele à AFP. "Eles dizem que há um karma ligado ao dinheiro e que (as doações) são a única maneira de se salvar. Então você acha que tem que fazer isso", explicou.

Oficialmente conhecida como Família das Federações para a Paz e Unificação Mundial (FFWPU), a igreja foi fundada em 1954 na Coreia por Sun Myung Moon e seus seguidores são chamados de "moonies".

O capítulo japonês começou em 1959 e ganhou impulso com o boom econômico da década de 1980, "uma época em que as pessoas não sabiam como viver suas vidas", disse Kimiaki Nishida, professor de psicologia social da Universidade Rissho, em Tóquio.

- "Distorceu a minha vida" -

A igreja oferece "vendas espirituais" de bens com preços exorbitantes, como uma estatueta de 42 milhões de ienes (US$ 350.000), dizendo aos crentes japoneses que sua compra absolveria a eles e seus ancestrais. Mas os enormes pagamentos dos membros geraram uma reação negativa.

A Rede Nacional de Advogados contra as Vendas Espirituais do Japão diz que entrou com processos para recuperar 123,7 bilhões de ienes (US$ 900 milhões) em danos de ex-seguidores desde 1987.

Uma série de prisões desde os anos 2000 e decisões contra a igreja impuseram limites às vendas espirituais, mas o advogado Yamaguchi diz que os crentes continuam sendo pressionados a cumprir as metas mensais de doação.

Ele afirmou que a igreja diz a seus membros que "é uma meta decidida por Deus". Mas a igreja nega pressionar seus membros.

"Nosso critério é que todas as doações para o céu devem ser dadas livremente", disse Demian Dunkley, assessor de imprensa da FFWPU, à AFP.

"O FFWPU às vezes pede doações, mas os membros do FFWPU decidem se, quando e quanto doar", acrescentou.

Em 2005, Yamagami supostamente tentou suicídio após a falência de sua mãe na esperança de que seus irmãos recebessem um pagamento de seguro. Seu irmão mais velho cometeu suicídio uma década depois.

Em uma carta contra a igreja, enviada a um blogueiro um dia antes do assassinato de Abe, Yamagami disse que sua adolescência foi prejudicada pelos gastos excessivos e falência de sua mãe. "A experiência distorceu toda a minha vida", segundo a carta publicada pela imprensa local.

Ex-membros da igreja relataram separações familiares semelhantes, incluindo uma mulher japonesa cuja mãe lhe disse para ficar com um marido abusivo, escolhido a dedo pela igreja, porque o divórcio "agradaria a Satanás".

"Não posso defender o que (Yamagami) fez, mas é assim que a igreja destrói vidas", disse a ex-membro da igreja sob condição de anonimato em uma recente entrevista coletiva.


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