"Quero apenas viver, envelhecer de maneira normal, morrer de maneira natural, não ser morta por um míssil", declarou a ucraniana de 62 anos à AFP.
Mas sua pequena pensão não permite que ela pague para deixar a zona de combates no leste do país e siga para outra região.
"Como devo viver? Com ajuda humanitária? Esticar a mão para pedir comida?", questiona, enquanto caminha pelo corredor úmido sob um prédio de apartamentos onde passa a maior parte do tempo.
"Esperamos pelo melhor, mas a cada dia é pior e pior", lamenta.
A Rússia abandonou em março a ofensiva contra a capital ucraniana Kiev e passou a concentrar as ações no Donbass, onde o Kremlin apoia os separatistas pró-russos desde 2014.
A batalha é exaustiva e virou um duelo de artilharia entre as tropas entrincheiradas ao redor dos assentamentos estratégicos e escondidas nas florestas que cercam as fazendas.
Há sinais de que a Rússia voltou a reagrupar forças, desta vez para enfrentar uma suposta contraofensiva ucraniana na costa sul.
Mas o ataque contra Soledar, perto da cidade de Bakhmut, "foi o eixo de maior sucesso no Donbass" no último mês, segundo o ministério britânico da Defesa.
A fumaça cobre o horizonte em Soledar e a rodovia que leva à cidade está marcada pela passagem dos tanques.
De tempos em tempos, o sombrio silêncio urbano é quebrado pelo impacto das bombas de fragmentação e da artilharia.
O setor industrial da cidade é constantemente bombardeado, mas a bandeira azul e amarela da Ucrânia permanece hasteada, em tom de desafio.
Para fugir do confronto mortal na superfície, Svitlana Klymenko vive em um porão semi-subterrâneo.
Quase 60 pessoas estavam no local, algumas há três meses, mas uma bomba atingiu a área na semana passada e matou um homem, o que provocou a fuga de quase todos.
Agora restaram Klymenko, o marido e outro homem, Oleg Makeev de 59 anos, além de um papagaio em uma gaiola e um gato.
Os quartos têm camas estreitas, lâmpadas penduradas e uma cozinha improvisada, abastecida com produtos enlatados, água engarrafada e café instantâneo.
"Aqui você não pode cozinhar nada normalmente, não pode tomar banho, como deveria me sentir?", questiona.
- Liberdade -
Fora da cidade, soldados ucranianos circulam em seus veículos e tentam evitar o reconhecimento aéreo russo.
Alguns boatos circulam e indicam que os russos já estariam dentro dos limites da cidade. Em Bakhmut e na vizinha Kramatorsk, os defensores se preparam para uma guerra urbana.
Um soldado, Mikhailo de 27 anos, caminha pela estrada que segue até Soledar com o fuzil nas costas.
Ele pintou a palavra "liberdade" no uniforme.
Mas os soldados também precisam viver debaixo da terra.
"Ficamos sentados nas trincheiras", conta Mikhailo. "Há muita artilharia, morteiros e não podemos reagir, não temos nada", explica.
Ele teme que os russos "avancem mais. Nos escondemos mais do que fazemos algo útil".