A polícia do estado de Nova York disse que está investigando um ataque a Rushdie antes de uma conferência literária em Chautauqua.
"O suspeito correu para o palco e atacou Rushdie e um entrevistador. Rushdie foi esfaqueado aparentemente no pescoço e foi levado de helicóptero para um hospital da região. Seu estado de saúde ainda é desconhecido", anunciou em comunicado.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, disse que Rushdie estava vivo e o elegiou como "uma pessoa que passou décadas dizendo a verdade ao poder."
"Condenamos toda violência e queremos que as pessoas possam sentir (a) liberdade de falar e escrever a verdade", disse.
Um policial estadual designado para o evento na Instituição Chautauqua, onde Rushdie deveria falar, "imediatamente deteve o suspeito", segundo o comunicado da polícia.
As autoridades não deram detalhes sobre a identidade do suspeito ou o provável motivo do ataque.
Imagens postadas online mostram pessoas correndo para ajudar Rushdie. O entrevistador do painel sofreu um ferimento na cabeça durante o ataque, de acordo com a polícia.
"Um evento horrível acaba de acontecer na #chautauquainstitution: Salman Rushdie foi atacado no palco em #chq2022. O anfiteatro foi evacuado", escreveu uma testemunha nas redes sociais.
A Instituição Chautauqua, que organiza programas de artes e literatura na tranquila comunidade do Lago Erie, disse em comunicado que estava trabalhando de forma coordenada com as autoridades policiais e socorristas.
- Uma década escondido -
O escritor de 75 anos chamou atenção com seu segundo romance "Os Filhos da Meia-Noite" de 1981, que recebeu aclamação internacional e o prestigioso Prêmio Booker do Reino Unido por seu retrato da Índia pós-independência.
Mas seu livro de 1988 "Os Versos Satânicos" teve um forte impacto ao provocar uma fatwa, ou decreto religioso, pedindo sua morte pelo líder revolucionário iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini.
O romance foi considerado por alguns muçulmanos como desrespeitoso ao profeta Maomé.
Rushdie, nascido em 1947 em Bombaim em uma família de muçulmanos não praticantes e ateu declarado, foi forçado a viver escondido quando uma recompensa foi oferecida por sua cabeça que ainda é válida.
Ele recebeu proteção policial do governo do Reino Unido, onde estudou e estabeleceu residência.
Passou quase uma década escondido, mudando de casa repetidamente e incapaz de dizer aos filhos onde morava.
Rushdie só começou a deixar sua vida como fugitivo no final dos anos 1990, depois que o Irã disse em 1998 que não apoiaria seu assassinato.
Atualmente vive em Nova York e é um forte defensor da liberdade de expressão. Fez uma forte defesa da revista satírica francesa Charlie Hebdo depois que um grupo de fundamentalistas islâmicos matou alguns de seus funcionários em Paris em 2015.
A revista publicou caricaturas de Maomé que provocaram reações furiosas entre os muçulmanos de todo o mundo.
- "Voz essencial" -
Ameaças e boicotes persistem contra os eventos literários de que Rushdie participa, e seu título de cavaleiro em 2007 provocou protestos no Irã e no Paquistão, onde um ministro do governo disse que justificava atentados suicidas.
No entanto, a fatwa não conseguiu sufocar a escrita de Rushdie e inspirou seu livro de memórias "Joseph Anton", em homenagem a seu pseudônimo enquanto estava escondido e escrito em terceira pessoa.
Os livros de Rushdie foram traduzidos para mais de 40 idiomas e seu romance "Os Filhos da Meia-Noite", com mais de 600 páginas, foi adaptado para palco e tela.
O primeiro-ministro britâncio, Boris Johnson, se disse "horrorizado" com o ocorrido.
Suzanne Nossel, diretora nos Estados Unidos da organização PEN, que defende a liberdade de expressão, destacou seu apoio ao "intrépido Salman", desejando-lhe "uma recuperação completa e rápida".
"Apenas horas antes do ataque, na manhã de sexta-feira, Salman me enviou um e-mail para ajudar com a localização de escritores ucranianos que precisam de refúgio dos graves perigos que enfrentam", disse Nossel em comunicado.
"Sua voz essencial não pode e não será silenciada", acrescentou.
Booker Group
NOVA YORK