Putin observa a "relutância" dos europeus "em arcar com as consequências de apoiar a Ucrânia", o que obriga a UE a "suportar e diluir os custos" do conflito, que começou há seis meses, com a invasão russa da Ucrânia.
A unidade entre os 27 países do bloco, acrescentou, é uma tarefa que deve ser reafirmada "dia a dia".
Os ministros das Relações Exteriores e da Defesa da UE se reunirão em 30 e 31 de agosto em Praga para reforçar o que até agora tem sido uma notável união diplomática em relação a Moscou.
Os países da UE, a maioria dos quais também fazem parte da Otan, adotaram vários pacotes de sanções contra setores-chave da economia russa e personalidades próximas a Putin.
Mas as sanções aumentaram os preços da energia e a inflação em todo o mundo, e muitos países, incluindo a Alemanha, a maior economia da Europa, estão ameaçados pela recessão.
Os países da UE que fazem fronteira com a Rússia, que carregam más lembranças da época em que pertenciam à órbita soviética, exigem medidas ainda mais duras e insistem na proibição de vistos para turistas russos.
Outros governos europeus estão menos dispostos a tomar novas medidas prejudiciais às suas próprias economias, temendo que o apoio de seus eleitores caia em um inverno de apagões e contas de gás cada vez maiores.
A tarefa de Borrell é manter a unidade do bloco.
"Não podemos esquecer que a UE é uma associação de Estados com visões diferentes sobre a Rússia", apontou.
Para a reunião ministerial em Praga, Borrell lançou a ideia de uma missão de apoio ao treinamento das Forças Armadas ucranianas em países da UE, algo que os britânicos e americanos já fazem.
"É necessário oferecer apoio à Ucrânia que vá além do fornecimento de armas. Diante de alguém que se recusa a parar a guerra, é preciso resistir", disse ele na entrevista por telefone.
Desde o início da invasão russa, há seis meses, a UE forneceu cerca de 2,5 bilhões de euros para financiar o fornecimento de armas e equipamentos à Ucrânia.
Para Borrell, o presidente russo Vladimir Putin "continua inflexível. Devemos continuar a pressão por meio de sanções e da reconstrução das forças da Ucrânia".
- Brincar com fogo nuclear -
Para Borrell, "a guerra toma um novo rumo. Os ucranianos passaram à ofensiva. Os ataques na Crimeia têm uma dimensão militar e psicológica significativa. Os russos parecem ter sido superados tecnologicamente, mas mantêm a capacidade de atacar".
"Estamos muito preocupados com a situação das usinas nucleares. está brincando com fogo", disse Borrell.
A usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, a maior da Europa, foi ocupada pelas forças russas e as duas partes no conflito se acusam pelos bombardeios nas últimas semanas em sua área.
Outra questão que divide os países da UE é o veto aos vistos de turista para cidadãos russos, apoiado pela Finlândia e pelos países bálticos.
Borrell tem um papel central na discussão. Na segunda-feira disse que "banir todos os russos de entrar na Europa (...) independentemente do motivo, não é uma boa ideia".
Em uma Europa que se prepara para um inverno sem gás russo, o chefe da diplomacia da UE enfatiza a necessidade de "assumir e distribuir os custos".
Borrell defende uma reforma dos preços da energia, que atualmente estão indexados aos preços do gás, este último tendo disparado nos últimos meses.
O "presente mais bonito" que a Europa pode dar à Rússia agora é "pagar pela eletricidade ao preço do gás", concluiu.