Institutos de pesquisa usam critérios científicos para escolher quem vai participar de um levantamento, garantindo que ele seja fiel à população de eleitores brasileiros.
Já as enquetes, como as compartilhadas nas redes perguntando sobre a preferência por um candidato ou outro, não têm metodologia definida. Assim, seus resultados perdem a credibilidade: podem tender a um lado ou outro, dependendo do grupo que escolheu respondê-las.
Um exemplo disso é a viralização de uma enquete após a divulgação do levantamento do Datafolha de 18 de agosto, que indagava: "Você acredita nas atuais pesquisas eleitorais?".
Por maior que tenha sido a quantidade de respostas - nesse caso, em apenas um post foram mais de 105 mil -, seu resultado não deve ser usado para tirar conclusões estatísticas.
"O grande problema das enquetes (...) é o viés", aponta Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.
"Nem todo mundo tem acesso à internet, nem todo mundo tem conhecimento" de enquetes realizadas nas redes sociais, disse.
Entre os usuários que desacreditam pesquisas eleitorais, também são frequentes os comentários com fotos e vídeos de manifestações nas ruas, que supostamente comprovariam intenções de voto.
Mas a premissa tampouco é válida, já que, assim como as enquetes, manifestações políticas reúnem pessoas com preferências similares, explica Felipe Nunes, professor de ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do instituto Quaest.
Nesses casos, "não tem uma amostra da população ", afirmou, ao detalhar que a lógica da amostra é justamente a de ter um retrato dos vários segmentos da sociedade: "Mais pobres, mais ricos, que moram aqui, outros moram lá, homens, mulheres, mais jovens, mais velhos".
O levantamento do Datafolha divulgado em 18 de agosto apontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 47% das intenções de voto no primeiro turno das eleições presidenciais, seguido do mandatário Jair Bolsonaro com 32% e Ciro Gomes (PDT) com 7%. A ficha técnica do estudo detalha que 5.744 pessoas foram consultadas seguindo uma metodologia de tipo "quantitativo, por amostragem".
Glauco Peres, coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais da Universidade de São Paulo (NECI-USP), explica que usar um subgrupo da população para analisar sua totalidade é como o ato de experimentar uma porção de uma refeição para avaliar seu sabor: "Vou provar um pouquinho para saber como está o todo".
Ele ressalta que são os métodos usados para selecionar a parcela da população que participará de um levantamento que determinam se ele é válido ou não. Por isso, sem metodologia, enquetes como as que se espalham nas redes não têm valor científico.