A operadora pública das centrais atômicas ucranianas, Energoatom, atribuiu ontem a "ações dos invasores" russos a desconexão dos últimos dois reatores em funcionamento entre os seis da central, a maior da Europa. "Um dos reatores da central de Zaporizhzhia interrompidos nesta quinta-feira foi reconectado à rede elétrica hoje, às 14H04, informou.
Zaporizhzhia é objeto de preocupação desde que foi ocupada pelas forças russas, dias após o início da ofensiva contra a Ucrânia (24 de fevereiro). A preocupação aumentou nas últimas semanas, após bombardeios dos quais Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente na cidade de Energodar, onde fica a central e a conexão à rede ucraniana.
"A Rússia deixou os ucranianos e todos os europeus a um passo de um desastre nuclear", disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na noite de ontem.
Segundo a Energoatom, a desconexão foi motivada por incêndios na central térmica que abastece de eletricidade os reatores nucleares. A operadora informou na tarde de hoje que trabalha para "aumentar a potência" do reator reconectado, sem informar se houve apagões devido à desconexão.
- Sem tempo a perder -
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou na semana passada que a situação na planta era "realmente volátil" e destacou "o risco real de uma catástrofe nuclear".
"Não podemos nos permitir perder mais tempo", declarou ontem o diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, acrescentando que estava decidido a "conduzir pessoalmente" uma inspeção na usina.
A assessora do ministro ucraniano de Energia, Lana Zerkal, disse que a agência da ONU se preparava para realizar uma missão em Zaporizhzhia "na próxima semana". Posteriormente afirmou, no entanto, que a Rússia "cria obstáculos de forma artificial".
Autoridades ucranianas suspeitam que Moscou pretende desviar o fornecimento de energia de Zaporizhzhia para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Os Estados Unidos condenaram ontem qualquer tentativa nesse sentido, e seu presidente, Joe Biden, exigiu que Moscou devolva o controle da planta a Kiev.
O Ministério britânico da Defesa advertiu que imagens de satélite captadas no fim de semana mostravam uma presença importante de unidades russas na central, com blindados de transporte de tropas a cerca de 60 metros de um dos reatores.
- Crise energética na Europa -
O primeiro-ministro da República Tcheca, que ostenta a presidência rotativa da União Europeia (UE), declarou nesta sexta-feira que irá convocar uma reunião urgente para discutir a crise energética gerada após a ofensiva russa na Ucrânia.
A presidência tcheca "convocará uma reunião urgente dos ministros da Energia, para tratar de medidas específicas de urgência e enfrentar a situação energética", confirmou o primeiro-ministro, Petr Fiala, no Twitter.
Os 27 Estados-membros da UE pretendem diminuir sua dependência no abastecimento de petróleo e gás russos. A redução no abastecimento e as preocupações com o futuro fizeram com que os preços da energia na Europa disparassem.
O ministro tcheco da Indústria e do Comércio, Jozef Síkela, disse no Twitter que o Conselho Europeu de Energia deveria se reunir "o quanto antes". "Estamos em uma guerra energética com a Rússia, o que prejudica toda a União Europeia", declarou Síkela.
- Bombardeios -
Desde que as forças russas se retiraram dos arredores de Kiev, no fim de março, os combates se concentram no leste e sul do país. A presidência ucraniana informou hoje que a Rússia bombardeou nas últimas 24 horas as regiões de Kharkiv, Donetsk e Dnipropetrovsk, deixando três mortos e 10 feridos.
Nessa última região, o Exército russo bombardeou na quarta-feira a estação de trem de Chaplino, deixando ao menos 25 mortos - entre eles duas crianças de 6 e 11 anos - e dezenas de feridos, segundo o balanço oficial ucraniano. Já a Rússia garante que bombardeou um trem militar em Chaplino e matou "mais de 200 militares" ucranianos.
Segundo a Presidência ucraniana, "repetidos ataques inimigos foram repelidos" na região de Lugansk (leste), que, juntamente com Donetsk, forma a bacia do Donbass.
KIEV