Por sua aparência desengonçada, é difícil acreditar que Gideon Rinehardt tenha servido quatro anos na Guarda Nacional dos Estados Unidos.
E, no entanto, foi esta experiência que lhe permitiu engrossar a unidade das "forças muito especiais", onde este jovem esperto de 26 anos serve sob o comando ucraniano, junto com outros dois americanos, um francês, um britânico e um finlandês.
A 15 quilômetros da linha de frente, ele conta a "história engraçada" de como chegou a esta unidade, depois de se apresentar em um centro de recrutamento em Lviv para se unir à Legião Internacional para a Defesa da Ucrânia, criada por iniciativa do presidente Volodymyr Zelensky.
"Não estou em grande forma, mas mesmo assim era o melhor ali. Perguntaram se queria me unir à infantaria regular ou aos 'badass', os durões. Disse: nunca estive nas forças especiais, então me mandem junto das pessoas normais. No entanto, me mandaram para cá."
Sua tenda, na saída de um povoado, está cheia de armas, de um fuzil de assalto tcheco a um lança-míssil antitanque, bem como munições russas e americanas.
Seus colegas saíram para se abastecer em Mikolaiv, a cidade mais próxima, enquanto ele passa o tempo ouvindo a banda de heavy metal Def Leppard.
E embora outros voluntários da Legião Estrangeira tenham se queixado de estar mal equipados, "Rockstar" garante que os ucranianos os tratam "muito bem".
- "Nada pode te preparar para esta guerra" -
Gideon não parece sentir falta de sua vida passada. Diz, sem maiores detalhes, que trabalhava fazendo "alguma coisa de jardinagem".
Quando o assunto é seu papel na guerra, por outro lado, fica sério.
"Nós nos movemos muito nas trincheiras e em áreas que pensamos que os russos vão ocupar. Há missões que consistem em emboscadas. Vemos os russos passar em veículos e os fazemos voar pelos ares", explica.
"Algumas vezes atiraram em nós e nós respondemos. Não sei se matei alguém, procuro não pensar nisso."
Segundo ele, muitos estrangeiros não estavam preparados ou foram surpreendidos pela intensidade dos combates.
"Nada pode te preparar para esta guerra. Alguns se vangloriam de terem ido ao Iraque ou ao Afeganistão, mas isto é completamente diferente", afirma.
"Esta é uma guerra de trincheiras, como na Primeira Guerra Mundial, e alguns soldados russos são excelentes, como por exemplo seus franco-atiradores."
- "Uma guerra de opinião pública" -
Na segunda-feira, a Ucrânia anunciou ter lançado uma contraofensiva no front sul para recuperar o controle da cidade de Kherson e seus arredores, sob ocupação russa.
"Rockstar" aprova. "Estou contente de que tenham lançado esta ofensiva. Temos que tomar a iniciativa, e acredito que esta é a melhor opção neste momento."
Gideon Rinehardt garante que se juntou ao combate porque as imagens das atrocidades na Ucrânia lhe pareceram "repugnantes". Agora, se dá dois meses para decidir se ficará mais tempo, a depender de se vai receber ou não o equipamento de inverno que pediu.
Apesar de não falar uma palavra de ucraniano, diz que tenta manter uma boa relação com os moradores do povoado onde está.
"Esta é uma guerra de moral, uma guerra de opinião pública. É preciso se comportar respeitosamente. Nós iremos embora e eles vão ficar."
REGIÓN DE MIKOLAIV