O ataque com arma de fogo contra Kirchner, realizado ontem à noite por um homem que está sendo investigado para saber se agiu sozinho, foi considerado pelo presidente Alberto Fernández como o incidente mais grave desde o retorno à democracia em 1983.
A tentativa de assassinato também foi repudiada pelos principais líderes da oposição Juntos pela Mudança (centro-direita), como o ex-presidente Mauricio Macri (2015-19) e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta.
A coalizão governista Frente de Todos (peronista, centro-esquerda) convocou uma marcha até a Plaza de Mayo "em defesa da democracia" em um dia que foi declarado feriado nacional.
"Cristina continua viva porque, por um motivo que ainda não foi confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", disse o presidente em um discurso à meia-noite.
A Argentina está em estado de estupor desde a noite de quinta-feira, quando um homem, que foi preso, apontou uma arma à queima-roupa e tentou atirar no rosto de Kirchner na porta de sua casa no bairro da Recoleta, em Buenos Aires.
O agressor esgueirou-se entre a multidão de militantes que a esperavam para manifestar sua solidariedade à ex-presidente (2007-15), em uma manifestação que se repete todas as noites desde 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu doze anos de prisão para ela em um julgamento em que é acusada de fraude e corrupção.
- Perante a justiça -
A juíza María Eugenia Capuchetti e o promotor Carlos Rivolo, encarregado da investigação do ataque, fizeram uma inspeção esta manhã na área onde ocorreu o ataque. O tribunal começou a receber as primeiras declarações de testemunhas, além de policiais e membros da custódia da vice-presidente de 69 anos. Mais tarde, a juíza foi à casa de Kirchner para ouvi-la.
Leia: Saiba quem é o brasileiro que tentou atirar em Cristina Kirchner
A polícia federal invadiu um apartamento nos arredores de Buenos Aires, que o agressor aluga há oito meses, segundo o proprietário. Duas caixas de 50 balas cada foram encontradas no local, disse uma fonte policial à imprensa.
O detido, chamado Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, é de nacionalidade brasileira, de mãe argentina e pai chileno. Ele reside na Argentina desde 1993. Ele já havia sido detido em 17 de março de 2021 por porte de armas não convencionais, segundo fontes policiais citadas pela agência de notícias oficial Télam. O homem tem um símbolo nazista tatuado no cotovelo, segundo imagens em suas redes sociais.
- Vigília e manifestações -
"Acabamos de vivenciar um dos piores episódios de nossa história com a tentativa de assassinato de Cristina Kirchner", tuitou Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires, o maior distrito do país.
Nesta sexta-feira, uma vigília foi realizada no local em meio a uma forte presença policial que isolou a área.
Leia: O que se sabe sobre o ataque armado contra Cristina Kirchner
No meio da manhã, os manifestantes, convocados por partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e organizações de direitos humanos, começaram a se reunir nas principais cidades do país, para protestar partir do meio-dia.
"Estávamos esperando nossa querida Cristina. Ela desceu para cumprimentar todo mundo, como todas as noites, para cumprimentar as pessoas. E de repente ouviu-se uma agitação, e foi aquele cara que apontou para ela. Eles o agarraram do meu lado, tenho o rosto deste infeliz pregado na minha cabeça", disse à AFP Teresa, que não quis dar seu sobrenome em frente à casa da vice-presidente.
Martín Frías, outro partidário de Kirchner de 48 anos, disse à AFP que com este fato "o inimigo é mais conhecido, mas a luta não se abandona. Significa tomar maiores precauções, mas com as mesmas convicções de sempre".
Leia: As reações de repúdio ao ataque contra Cristina Kirchner
O ataque foi repudiado por líderes latino-americanos e pelo chefe do Governo espanhol, bem como pela porta-voz do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina Shamdasani.
Nesta sexta, o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, também condenou o ataque e pediu a rejeição da violência política e do "ódio".
"Apoiamos o governo e o povo argentinos na rejeição da violência e do ódio", escreveu Blinken no Twitter.