O democrata de 79 anos, que tem baixa popularidade, embora venha crescendo nas pesquisas, sempre repete: "Não me comparem a Deus, me comparem à alternativa". Uma forma sutil de dizer que seus defeitos são menores se comparados aos de seu principal adversário, o ex-presidente Donald Trump.
De fato, Biden atacou seu antecessor e os republicanos "extremistas" em seu discurso de quinta-feira na Filadélfia, onde classificou os seguidores do MAGA (Make America Great Again, bordão de Trump) como inimigos da democracia.
Com uma virulência incomum, o presidente proclamou: "Donald Trump e os republicanos do MAGA representam o extremismo que ameaça a própria fundação de nossa República". Os representantes da direita radical "se alimentam do caos. Não vivem à luz da verdade, mas à sombra da mentira".
- Nem todos são uma ameaça -
No entanto, o presidente garantiu nesta sexta-feira que não fazia referência a todos os eleitores de Trump, mais de 74 milhões de pessoas em 2021. "Não vejo todos os apoiadores de Trump como uma ameaça para a democracia", declarou Biden a um grupo de jornalistas na Casa Branca.
"As pessoas que votaram em Donald Trump e o apoiam hoje não votaram para atacar o Capitólio, não votaram para anular as eleições", completou.
O The New York Times ofereceu uma análise da postura do presidente: "Se perguntarem aos americanos se apoiam o Sr. Biden, é possível que digam que não. Se perguntarem se o apoiam contra o Sr. Trump, só podem responder que sim. Pelo menos essa é a teoria da Casa Branca".
E a Casa Branca também está por trás da teatralidade do evento na Filadélfia, onde Biden discursou ao pé do prédio onde a Constituição americana foi adotada, sob jogos de luz vermelha e sombras profundas, e com dois soldados atrás do presidente.
O uso destas simbologias para um discurso de campanha foi questionado não só por conservadores.
Um dos porta-vozes da Casa Branca, Andrew Bates, afirmou no Twitter que as falas de Biden são "alertas bem fundamentadas" e "tudo menos políticas".
No entanto, ao abordar questões como a defesa da democracia e do direito ao aborto, Biden tenta ofuscar os argumentos favoritos usados pela campanha republicana sobre economia e crime.
- Estratégia e riscos -
As eleições de meio de mandato sempre representam um teste para o partido no poder, que nem sempre consegue manter ou aumentar sua posição no Congresso.
Para Wendy Schiller-Kalunian, cientista política da Universidade de Brown, a estratégia dos democratas não é isenta de riscos.
"Os grupos-chave desta eleição são os simpatizantes republicanos dos subúrbios residenciais e os eleitores independentes" mais inclinados à direita, analisou.
"Se Biden fizer com que tudo seja sobre Trump, pode dar errado e encorajar este eleitorado a votar" nos republicanos, acrescentou Schiller-Kalunian, professora de assuntos públicos e internacionais.
Samuel Goldman, professor de ciência política da Universidade George Washington, estima que "os eleitores indecisos decidem sobre questões específicas como a economia" e que a prioridade de Biden é "galvanizar os apoiadores democratas".
Em suma, Biden enfrenta o mesmo dilema de todos os presidentes americanos: ser ao mesmo tempo chefe de Estado e líder de um partido.
"Devido à polarização ideológica, a fragmentação da mídia e a queda da confiança nas instituições, é cada vez mais difícil desempenhar os dois papéis ao mesmo tempo", analisou o cientista político.
WASHINGTON