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Estado de Minas SANTIAGO

Cinco pontos para entender a vitória do 'Rejeito' no Chile


05/09/2022 10:30

Um polêmico processo de redação, propostas que provocam medo, o enfraquecimento da popularidade do presidente esquerdista Gabriel Boric e o "voto silencioso" explicam a rejeição da Constituição do Chile em um referendo no domingo, dizem analistas.

No referendo, 61,9% dos eleitores votaram contra a mudança da Constituição vigente desde a ditadura de Augusto Pinochet por outra que reconhecesse novos direitos em saúde, aborto, educação, aposentadoria e meio ambiente e consagrasse uma "plurinacionalidade" indígena. A proposta foi apoiada por 38,1% dos 13 milhões de eleitores.

- Processo de redação polêmico -

O texto foi escrito por uma convenção de 154 membros que atuou com muita polêmica desde sua instauração em julho de 2021. A própria sessão inaugural foi interrompida várias vezes por protestos dos integrantes.

"Mais do que o resultado do texto em si, o que as pessoas vinham avaliando mal há várias semanas era a forma como esse processo se desenvolveu", explicou à AFP Marco Moreno, analista da Universidade Central, descrevendo "excessos" e "má conduta de muitos convencionais".

- Conteúdos da proposta -

O texto de 388 artigos foi considerado vanguardista por vários analistas, que alertaram que também continha propostas que parte da população considerava radicais demais e geravam medo, principalmente na política.

"Havia certos conteúdos dentro do texto constitucional proposto que geraram resistência de amplos setores da sociedade e aumentaram os níveis de medo e incerteza", disse Marcelo Mella, cientista político da Universidade de Santiago.

Mella destacou sobretudo a mudança no sistema político proposta pelo texto, que eliminava o Senado e instituía em seu lugar uma Câmara das Regiões para avaliar as leis de "acordos regionais".

Muitos viram nessa medida o risco de perda do poder de veto da oposição.

Outras propostas polêmicas contidas no texto foram a "plurinacionalidade" indígena, o direito ao aborto e a consideração da água e da saúde como direitos humanos.

"Uma parte da Constituição é muito 'millenial' e esses valores 'millenials' não são a exigência da parte mais tradicional", disse a socióloga Marta Lagos.

- Má avaliação de Boric -

Boric, que assumiu o cargo em 11 de março, viu a avaliação de sua gestão cair rapidamente para 38%, o mesmo percentual que obteve o "Aprovo".

Com um governo bastante ativo e acusações da oposição de intervencionismo eleitoral, o resultado do plebiscito foi atrelado à atuação do presidente.

"Há um voto importante de punição que deve ser levado em conta", diz Moreno.

Após os resultados das eleições, o presidente afirmou que fará ajustes em sua equipe de governo nos próximos dias e convidou a oposição para discutir como canalizar um novo processo constitucional.

- Espiral do silêncio -

Todas as pesquisas davam o "Rejeito" como ganhador, mas nenhuma previu a grande diferença, atribuída pelos analistas à chamada "espiral do silêncio", que ocorre quando os eleitores, por medo ou receio, não anunciam sua decisão aos entrevistadores da pesquisa.

Neste caso, com voto obrigatório e a votação de mais de 13 milhões de eleitores (sobre um registro de 15 milhões), estima-se que as pesquisas e os estudos de opinião não consideraram cerca de três milhões de eleitores.

Nenhuma pesquisa ou estudo esperava uma participação tão alta, de quase 80%.

Votaram "praticamente todos os que tinham que votar" e "isso não estava previsto em nenhuma análise", afirmou Moreno.

- Desaceleração econômica -

Após um crescimento recorde de 11,7% em 2021, apoiado por saques antecipados de fundos de pensão e auxílios estatais para enfrentar a pandemia, a economia chilena entrou em uma fase de desaceleração e alta inflação (13% ao ano).

"Quando nosso país decidiu abrir o processo constituinte (...), não tinha o nível de crise econômica de hoje. Então, as mesmas pessoas podem ter uma avaliação de risco diferente, mudando as condições econômicas de forma tão dramática", acrescenta Marcelo Mella.


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