"Esta semana, temos boas notícias da região de Kharkiv", no nordeste, onde há "localidades nas quais a bandeira ucraniana voltou" a ser hasteada, disse Zelensky em seu discurso vespertino, sem dar maiores detalhes.
Depois de mais de um semestre de resistência à invasão, o exército ucraniano lançou contraofensivas no nordeste e no sul, na região de Kherson que, segundo os especialistas , podem perturbar as rotas de abastecimento das tropas da Rússia.
Ainda assim, o Kremlin mantém o controle sobre uma ampla faixa do território ucraniano, nos arredores de Kharkiv, nas regiões de Donetsk e Lugansk na bacia mineira do Donbass e na costa do Mar de Azov.
Nestas áreas ocupadas, o partido do presidente russo, Vladimir Putin, o Rússia Unida, propôs organizar referendos de anexação em 4 de novembro.
"O mundo russo, atualmente dividido por fronteiras formais, vai recuperar sua integridade", afirmou o secretário do Conselho Geral do partido, Andrei Turchak, em alusão às regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia.
Donetsk e Lugansk são controladas em sua maior parte por separatistas pró-russos desde 2014. Antes de lançar sua ofensiva, em 24 de fevereiro, o governo russo reconheceu sua independência.
- Translado forçado -
Em um encontro do Conselho de Segurança, a vice-secretária-geral da ONU para os direitos humanos disse existirem "acusações confiáveis" sobre o translado forçado de menores da Ucrânia para a Rússia.
"Preocupa-nos que as autoridades russas tenham adotado um procedimento simplificado para conceder a cidadania russa às crianças que não estão sob a custódia de seus pais, e que estas crianças sejam elegíveis para adoção por famílias russas", disse Ilze Brands Kehris.
Ela também ressaltou que a Rússia faz controles de segurança nas regiões que ocupa que violam numerosos direitos e que pessoas próximas do governo ou do exército ucraniano foram torturadas e provavelmente enviadas a centros de detenção.
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, refutou as acusações, às quais considerou "sem fundamento", enquanto disse que os ucranianos deixaram seu país "para se salvar do regime criminoso", em alusão ao governo de Kiev.
- Capacetes azuis em Zaporizhzhia? -
Também permanece aberta a disputa pela usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, ocupada pelas forças russas e alvo de uma inspeção recente da instância de vigilância atômica da ONU.
A Rússia pediu "esclarecimentos adicionais" nesta quarta-feira após a publicação do relatório da missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que pediu o estabelecimento de uma "zona de segurança" em Zaporizhzhia para evitar um acidente nuclear.
Contrariando o informe da AIEA, Putin declarou que a Rússia não mobilizou equipamento militar nesta central nuclear, a maior da Europa.
Ocupada no começo de março pelas tropas russas, a usina é, há semanas, alvo de bombardeios , dos quais Moscou e Kiev se acusam mutuamente.
A Ucrânia, por sua vez, apoiou nesta quarta o envio de capacetes azuis da ONU para a central.
"Pode ser um dos meios de criar a zona de segurança na usina nuclear de Zaporizhzhia", declarou Petro Kotin, diretor da Energoatom, operadora nuclear estatal ucraniana.
- Tensão sobre a energia -
Além de milhares de mortos e milhões de deslocados, a guerra provocou uma crise energética mundial e de abastecimento de grãos, dos quais Ucrânia e Rússia são grandes exportadores.
Com a proximidade do inverno, as tensões sobre a energia aumenta entre Moscou e a União Europeia, que planeja estabelecer limites aos preços dos combustíveis russos.
"Temos que cortar a renda da Rússia, que Putin usa para financiar sua guerra atroz contra a Ucrânia", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Em um cenário assim, a Rússia suspenderá completamente o fornecimento de hidrocarbonetos à UE, alertou Putin. "Nem gás, nem carvão.... Nada", disse em um fórum econômico em Vladivostok, no extremo leste russo.
O dirigente do Kremlin também negou que esteja usando a energia como arma e assegurou que o corte do fornecimento de gás para a Europa pelo gasoduto Nord Stream se deve à escassez de peças, provocada pelas sanções ocidentais.
No mesmo fórum, Putin denunciou que a maioria dos cereais exportados pela Ucrânia em virtude de um acordo patrocinado pela ONU se dirigia a países europeus e não a países pobres.
"Isso poderia levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes", afirmou.
A Ucrânia respondeu que estas acusações são "mentiras" e seu chefe da diplomacia, Dmitro Kuleba, assegurou que dois terços das embarcações vão para a Ásia, África e Oriente Médio.
Segundo dados de um centro de Istambul que monitora o acordo, um terço dos cereais vai para países europeus, 20% para a Turquia e outros 30% a países de renda baixa e média-baixa.
No entanto, parte das exportações enviadas a Europa e Turquia são encaminhadas a outros destinos, mediante acordos comerciais não controlados por este organismo.