Sem o mesmo carisma e reconhecimento popular de que gozava a mãe, Elizabeth II – morta na quinta-feira, aos 96 anos –, o rei Charles III assume o trono em momento crítico para o Reino Unido e, por extensão, para a monarquia britânica. Esse estado soberano, que integra sob um único reino Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, acaba de perder para a sua ex-colônia, a Índia, a posição de quinta economia do mundo. Vive profunda crise econômica, inflação de dois dígitos, desgastes decorrentes do Brexit e insatisfações políticas de longa data, que tendem a reavivar o ímpeto independentista da Escócia (que não é novo) e catalisar ideias que também circulam na Irlanda do Norte e em Gales.
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De Balmoral a Edimburgo, escoceses acompanham silenciosamente a última viagem de Elizabeth IIEscócia inicia o longo e último adeus à rainha Elizabeth IICharles III: viraliza vídeo em que o rei ordena arrumação de mesaVeja possíveis causas das mãos inchadas de Charles IIIO reinado de 70 anos de Elizabeth II: sem império, mas com a coroa“São desafios que a monarquia inglesa vai enfrentar sem Elizabeth II, que construiu em torno de si uma imagem de grande autoridade, um símbolo forte da continuidade, da ideia de que o Reino Unido sobreviveu às Grandes Guerras, às crises que vieram depois delas”, afirma Jorge Macarenhas Lasmar, professor de Relações Internacionais da PUC Minas e doutor em Relações Internacionais pela London School of Economics.
“Charles III não tem esse carisma. E o fim dessa credibilidade pode ameaçar a própria ideia do Reino Unido, com o fortalecimento dos movimentos independentistas da Escócia, Irlanda do Norte e Gales”, pontua Lasmar. “É significativo que a primeira coisa que o rei vai fazer, e está no protocolo Unicórnio, é visitar os países para que declarem lealdade”, sustenta.
Lasmar assinala que a questão que se coloca é se Charles III também vai conseguir manter a ideia da monarquia, distante da realidade de vida da população. “Há movimentos republicanos contra a realeza. Charles vai ter pulso e carisma para manter a própria monarquia?”, indaga.
Opinião semelhante manifesta Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional da UFMG e pesquisador visitante da Universidade de Oxford, para quem a morte da rainha, uma personalidade em quem a população do Reino Unido confiava, coincide com momento de turbulência econômica e política.
“O Estado enfrenta crises múltiplas, uma crise econômica séria, com perspectiva de recessão. Inflação de dois dígitos, uma novidade para eles, há quase 30 anos não tinham inflação tão alta, que tem a ver não só com a guerra na Ucrânia, mas também porque há seca no país e na Europa inteira”, destaca Dawisson Belém Lopes.
“O Estado enfrenta crises múltiplas, uma crise econômica séria, com perspectiva de recessão. Inflação de dois dígitos, uma novidade para eles, há quase 30 anos não tinham inflação tão alta, que tem a ver não só com a guerra na Ucrânia, mas também porque há seca no país e na Europa inteira”, destaca Dawisson Belém Lopes.
Esse quadro tende a se agravar com a proximidade do inverno, diz: “As famílias não têm como pagar as contas projetadas com a despesa de gás, o aumento dos preços internacionais da energia, pela corte do gás russo”.
Futuro incerto
A instabilidade econômica e social é também potencializada pela desconfiança em relação à nova primeira-ministra do Reino Unido, diz Dawisson Belém.
“Foi um arranjo dentro do Partido Conservador, que inclusive começa a perder força. Se fosse chamada eleição hoje, os trabalhistas voltariam ao poder”, sustenta.
“Foi um arranjo dentro do Partido Conservador, que inclusive começa a perder força. Se fosse chamada eleição hoje, os trabalhistas voltariam ao poder”, sustenta.
É assim que Charles III assumirá a chefia do Estado em meio a esse cenário de incertezas políticas, econômicas, recessão e de pressões orçamentárias sobre os compromissos assumidos pelo Reino Unido com o armamento à Ucrânia.
“Em meio a esse turbilhão parte a respeitada rainha Elizabeth II. É um momento sensível. O Reino Unido foi pego num momento duro”, acrescenta.
“Em meio a esse turbilhão parte a respeitada rainha Elizabeth II. É um momento sensível. O Reino Unido foi pego num momento duro”, acrescenta.