De acordo com depoimentos coletados pela Agência France-Presse, muitos moradores do Catar se encontraram nesta situação nos últimos meses, quando seus proprietários se recusaram a renovar seus aluguéis.
Outros tiveram que escolher entre pagar mais por um ano ou procurar algo mais barato em outro lugar. São inúmeras as reclamações nas redes sociais.
O governo reconhece um "aumento da demanda" por acomodações durante o torneio, mas disse que não comenta casos individuais.
Uma autoridade esclareceu que os inquilinos "podem apresentar uma reclamação junto à Comissão de Resolução de Litígios".
"Nos sentimos humilhados. Tivemos que nos mudar (...) para um hotel com todos os nossos pertences em sacolas e caixas", conta Reem, de 30 anos, que mora em Doha há quatro. Como dezenas de colegas, sua empresa encontrou para ela um apartamento em um arranha-céu há dois anos.
Recentemente, a direção informou que o proprietário não tinha intenção de renovar seus contratos e que teriam uma semana para desocupar os apartamentos "reservados (...) durante a Copa do Mundo" de 20 de novembro a 18 de dezembro.
Um diplomata também confessou que os funcionários de sua embaixada pediram um aumento para lidar com o aumento dos aluguéis.
"Os aluguéis aumentaram no mês passado", observa também Nabil Ghorra, um libanês-americano de 59 anos. "Tenho a impressão de que as pessoas estão tentando tirar vantagem da situação".
- "Sem piedade" -
"A maioria dos proprietários quer aproveitar o período (da Copa do Mundo), e são impiedosos", diz, de forma anônima, um responsável de uma imobiliária.
Segundo ele, Doha sofre atualmente com um aumento médio dos aluguéis da ordem de 10% (o percentual autorizado por lei), mas alguns proprietários aumentam os preços "de forma louca".
Anum Hassan, do Valustrat Group no Catar, estima que "os aluguéis aumentaram em média 40% em um ano em algumas áreas".
Esse fenômeno também afeta os torcedores que irão ao rico emirado para testemunhar a primeira Copa do Mundo no mundo árabe, cuja organização custou bilhões de dólares.
No site booking.com, vários apartamentos no prédio onde Reem morava são alugados por 1.700 euros a noite por um período mínimo de 14 dias (o que significa 24.000 euros no total), enquanto antes o aluguel era de 2.500 euros por mês.
Na plataforma Airbnb, os apartamentos para duas pessoas são alugados em média por 2.500 euros por noite e 77.000 euros por mês. O aluguel mínimo mensal de uma casa é de 13.000 euros, mas os preços podem chegar a mais de 100.000 euros.
O Catar, um pequeno país com capacidade limitada de acomodação, espera receber mais de um milhão de visitantes durante a Copa do Mundo.
Alguns farão a viagem de ida e volta no dia de países vizinhos. Para abrigar o restante, os organizadores lançaram uma plataforma, com preços sob controle, para 130 mil acomodações em hotéis, cruzeiros, apartamentos, casas pré-fabricadas e barracas de acampamento.
Fora dessa estrutura, os proprietários são livres para definir suas tarifas, mas a recente entrada no mercado de milhares de quartos de hotel (reservados pelos organizadores, mas eventualmente cancelados) pode empurrar os preços para baixo.
Para rentabilizar o evento, muitos inquilinos consideram a sublocação, mas esta opção requer a aprovação do proprietário.
Adel, um pseudônimo, chegou a propor o apartamento de um quarto que aluga no Airbnb por US$ 900. "A demanda foi muito alta", diz ele, mas teve que cancelar as reservas após receber um e-mail do Airbnb exigindo a anuência do proprietário.
Para Reem e seus companheiros, as dificuldades não acabaram. Deverão deixar suas casas em 15 de novembro, reservadas durante a Copa do Mundo.
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