O presidente dos EUA, Joe Biden, indicou que estaria pronto para se encontrar com Vladimir Putin, mas a Rússia afirma que a recusa dos americanos e da Europa em reconhecer territórios tomados da Ucrânia torna as negociações de paz mais difíceis.
O Kremlin disse estar aberto a negociações, mas não à exigência de sair da Ucrânia.
A Rússia anexou ilegalmente quatro regiões ucranianas no final de setembro, mesmo sem controlar nenhuma delas. Nove meses após a invasão, perdeu mais da metade das terras que conquistou.
Biden disse na noite de quinta-feira (1/12) a jornalistas que está pronto para se encontrar com o líder russo "se de fato houver interesse dele em decidir que está procurando uma maneira de acabar com a guerra".
Ao lado dele na Casa Branca, o presidente francês, Emmanuel Macron, deixou claro que os dois líderes concordaram que nunca pressionariam os ucranianos a fecharem um acordo "que não seja aceitável para eles".
A aparente agitação da atividade diplomática seguiu meses com poucos sinais de entusiasmo por negociações. Os militares russos foram forçados a recuar no sul da Ucrânia enquanto lançavam ataques generalizados à infraestrutura civil.
Na sexta-feira (2/12), o chanceler alemão, Olaf Scholz, falou com o presidente Putin pela primeira vez desde setembro.
Durante a ligação de uma hora, o líder alemão pediu ao russo que encontrasse uma solução diplomática envolvendo a retirada das tropas russas da Ucrânia "o mais rápido possível".
O Kremlin disse que o lado alemão pressionou pelo telefonema, e Putin pediu a Scholz que "reconsiderasse suas abordagens no contexto dos eventos ucranianos".
Putin chamou atenção para a "linha destrutiva dos Estados ocidentais, incluindo a Alemanha" e rejeitou completamente a ideia de negociações, informou o Kremlin.
O porta-voz russo Dmitry Peskov disse a jornalistas anteriormente que Putin permaneceu aberto a negociações destinadas a "garantir os interesses" russos. Mas Moscou certamente não está disposta a aceitar as condições dos EUA. "O que o presidente Biden disse de fato?
Ele disse que as negociações só são possíveis depois que Putin deixar a Ucrânia", afirmou.
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'Nada de concreto'
O fato de que os EUA não reconhecem "novos territórios" russos na Ucrânia complicou a busca por uma base comum para as negociações, disse Peskov.
No fim de setembro, Putin declarou quatro regiões ucranianas como parte da Rússia. Forças russas ocupam a maior parte de Luhansk, no leste da Ucrânia, mas a invasão de Donetsk estagnou e os russos estão em desvantagem em Kherson e Zaporizhzhia, no sul.
Antes da ligação entre Scholz e Putin na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, reclamou que os países europeus não ofereceram nada de concreto até agora em termos de mediação.
"Macron, a propósito, tem afirmado regularmente nas últimas duas semanas que planeja uma conversa com o presidente russo", disse ele, acrescentando que a Rússia não recebeu nenhum sinal por meio dos canais diplomáticos.
Lavrov citou o ex-secretário de Estado dos EUA, John Kerry, como o tipo de figura que no passado foi capaz de resolver problemas e se engajar em um verdadeiro diálogo.
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, disse na sexta-feira que chegou a hora de trabalhar por uma paz justa para a Ucrânia, mas que ela deve vir por meio da independência de Kyiv e não de sua rendição.
"O Kremlin agora deve dar sinais concretos em vez de bombardear a população", disse Tajani ao jornal La Repubblica.
Enquanto isso, em uma visita à Ucrânia, o arcebispo de Canterbury (líder religioso da Igreja da Inglaterra), Justin Welby, disse que não pode haver paz até que a Rússia pare de mentir sobre o que está fazendo na Ucrânia.
Falando em Bucha, onde as tropas russas são acusadas de cometer crimes de guerra com o massacre de centenas de civis, ele disse que "não pode haver nenhum progresso com base em mentiras. Atrocidades foram cometidas aqui".
Um alto funcionário ucraniano disse que entre 10 mil e 13 mil soldados do país foram mortos desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.
Nem a Ucrânia nem a Rússia tendem a divulgar números de baixas, e as declarações do conselheiro presidencial Mykhailo Podolyak não foram confirmadas pelos militares ucranianos.
No mês passado, o general mais graduado dos EUA, Mark Milley, disse que cerca de 100 mil soldados russos e 100 mil ucranianos foram mortos ou feridos desde o início da guerra.
Falando à TV ucraniana, Podolyak disse que Kyiv estava "falando abertamente sobre o número de mortos". Ele acrescentou que o número de civis mortos pode ser "significativo" e sugeriu que até 100 mil soldados russos foram mortos desde a invasão.
Em um vídeo na quarta-feira, a chefe da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, disse que 100 mil soldados ucranianos foram mortos. No entanto, um porta-voz da comissão esclareceu posteriormente que isso foi um erro, e o número se referia aos mortos e feridos. Von der Leyen também falou de 20 mil mortes de civis ucranianos.
Reportagem adicional de Elsa Maishman e Jaroslav Lukiv
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63841200