A cúpula do Mercosul aquece os motores nesta segunda-feira (5/12), véspera da reunião de chefes de Estado, com a flexibilização do bloco novamente sobre a mesa e um clima renovado de tensão, após a ameaça de represálias contra o Uruguai por seu interesse em assinar acordos com terceiros países.
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China diz estar aberta à 'cooperação' com Mercosul enquanto avança TLC com UruguaiMercosul tenta evitar ruptura ante eventual tratado Uruguai-ChinaArgentina pede ao Uruguai para incluir todos os sócios do Mercosul a um TLC com a ChinaPresidente do Peru dissolve Congresso, antecipa eleições e decreta exceçãoO presidente Jair Bolsonaro não estará presente na cúpula, como fez em julho durante o encontro em Assunção.
O argentino Fernández receberá a presidência provisória do bloco do uruguaio Luis Lacalle Pou.
O presidente uruguaio espera uma reunião "entretida", em declarações na última quarta-feira, ao saber de uma nota divulgada por Brasil, Argentina e Paraguai, em que os três levantam a possibilidade de "possíveis medidas" contra Montevidéu por seu pedido de adesão ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP).
"Os três países se reservam o direito de adotar as medidas que considerem necessárias para defender seus interesses no campo jurídico e comercial", alertaram Buenos Aires, Brasília e Assunção em declaração conjunta, que critica a posição uruguaia de buscar acordos com países de fora da zona sem o consentimento dos demais sócios.
Horas depois, o governo uruguaio finalizou seu pedido de adesão ao acordo comercial formado por Austrália, Japão, Canadá, Nova Zelândia, Brunei, Chile, Malásia, México, Peru, Singapura e Vietnã, por meio de uma carta entregue por seu ministro das Relações Exteriores, Francisco Bustillo.
Este é um novo capítulo que se soma à disputa que o menor país do bloco, com 3,5 milhões de habitantes, mantém com seus sócios há décadas.
De fato, o governo de Lacalle Pou também tenta negociar um Tratado de Livre-Comércio (TLC) com a China sem a aprovação dos outros membros do Mercosul, o que irritou particularmente a Argentina e o Paraguai.
Uma resolução conjunta do ano 2000 e o tratado fundador de 1991 sugerem que os acordos do Mercosul devem ser alcançados em conjunto pelos sócios, uma interpretação da regulamentação que o Uruguai não compartilha.
Jogada política
A declaração das três chancelarias, e a decisão de divulgá-la simultaneamente, "é uma mensagem, um movimento mais político do que concreto, um alerta que o Mercosul dá ao Uruguai sobre algo que já sabíamos que eles não compartilhavam", disse o especialista em Relações Internacionais, Ignacio Bartesaghi, em declarações à AFP.Para o analista, "o Uruguai não pode voltar atrás em algo que ainda não começou".
"O que se iniciou até agora são anúncios e ações que não têm qualquer tipo de possibilidade de reclamação judicial", ponderou sobre o pedido de adesão ao CPTPP, bem como sobre o caminho percorrido para negociar um acordo de livre-comércio com a China.
"O Uruguai ainda não está negociando. Fechar um estudo de viabilidade com a China é considerado um primeiro elo da negociação, sim, mas tecnicamente não está negociando nada ainda. E muito menos com o CPTPP, para o qual acabou de apresentar a nota", resumiu.
Neste contexto, Bartesaghi considera que na cúpula "não haverá nada para apresentar" e se repetirá o cenário das reuniões anteriores, sem progressos concretos.
"A discordância do Mercosul em questões mínimas de consenso ficará evidente mais uma vez", afirmou.
Além disso, o especialista destacou que a ausência do Brasil, "a potência" da região, pela segunda vez consecutiva em uma cúpula, é um claro indicador do atual estado de fragilidade do bloco.