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Estado de Minas KIEV

Zelensky, de presidente em apuros a líder da resistência ucraniana

Em 1º de janeiro, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky não pensava que se tornaria a personalidade de 2022


06/12/2022 09:54 - atualizado 06/12/2022 11:02

Na foto, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky em comunidade de resistência
O conflito com os separatistas pró-russos no Donbass continuava estagnado, apesar do fato de Zelensky ter focado sua campanha presidencial de 2019 na promessa de resolvê-lo pacificamente (foto: STRINGER / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP)
Em 1º de janeiro, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky não pensava que se tornaria a personalidade de 2022. Naquele momento, enfrentava o descontentamento de sua população e a invasão russa era apenas um alerta dos serviços de inteligência dos Estados Unidos.


A aura de novidade deste ator e comediante que entrou para a política em 2019 já havia desaparecido e sua popularidade estava baixa em razão dos problemas econômicos e sociais da Ucrânia.

O conflito com os separatistas pró-russos no Donbass continuava estagnado, apesar do fato de Zelensky ter focado sua campanha presidencial de 2019 na promessa de resolvê-lo pacificamente.

Seus rivais estavam cientes de suas fraquezas e começava a surgir dúvidas entre a população se ele era a pessoa certa para liderar o país.

"Mas tudo mudou em 24 de fevereiro", diz o cientista político ucraniano Volodimir Fesenko, em declarações à AFP.

Naquela quinta-feira fatídica, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o início da intervenção do exército russo na Ucrânia.

Estamos todos aqui

A invasão russa representou um momento histórico em um espaço pós-soviético marcado por tensões entre a Rússia e seus vizinhos, três décadas após o colapso da URSS.

Foi também um momento crucial na trajetória de Zelensky, que passou de um presidente em dificuldades a líder da resistência militar ucraniana.

No primeiro dia da invasão, "correu o boato de que Zelensky fugiria, pois dava a impressão de ser um presidente fraco, que não conseguiria resistir à pressão militar ou encarnar um líder em tempos de guerra", lembra Fesenko.

Mas o presidente ucraniano não fugiu. Pelo contrário, apareceu em um vídeo nas primeiras horas do conflito: "Estamos todos aqui, defendendo nossa independência e nosso país", declarou olhando diretamente para a câmera.

Desde o início da invasão, que já causou milhares de vítimas e milhões de refugiados, Zelensky discursa todas as noites.

Costuma pedir em seus discursos um esforço maior dos Estados Unidos e dos países europeus no envio de ajuda militar à Ucrânia e na adoção de mais sanções econômicas contra a Rússia.

Mudança radical

"Antes da guerra, a Ucrânia era tratada por muitos como um Estado falido e Zelensky como um líder fraco, que não era totalmente competente", explica Fesenko.

"A guerra mudou radicalmente a atitude das pessoas em relação a Zelensky. Mas ele também mudou", acrescenta este cientista político.

Zelensky nasceu em uma família judia na cidade de Kryvyy Rih, no sul, em um dos territórios de língua russa do sul da Ucrânia.

 


Em 2015, um ano após o início das tensões na Ucrânia com a revolta de Maidan e a anexação russa da Crimeia, Zelensky ficou famoso graças à série "Servo do Povo".

Nessa comédia, ele interpretou um professor de história bastante ingênuo que conseguiu ser eleito presidente após uma discussão com um colega sobre corrupção que se tornou viral.

Alguns anos depois, Zelensky decidiu concorrer à presidência em 2019, vencendo com ampla vantagem (73% dos votos no segundo turno) graças à sua imagem "de um homem comum que queria sacudir o sistema".

Cansaço pela guerra

Sua bagagem como ator o ajuda na batalha de comunicação durante os nove meses de conflito.


"Ele não usa linguagem diplomática ou politicamente correta. Ele pede sem rodeios o que a Ucrânia precisa para sobreviver à guerra", comenta à AFP Sergiy Leshchenko, ex-jornalista e político ucraniano.

Por exemplo, depois que o exército russo foi acusado em setembro de bombardear civis na cidade de Zaporizhzhia, o presidente ucraniano classificou os soldados inimigos como "escória" e a Rússia como "Estado terrorista".

Outro momento icônico foi quando ele visitou a cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, onde civis foram encontrados mortos com balas na cabeça e as mãos amarradas nas costas, poucos dias depois que as tropas russas se retiraram da cidade.

 

 

Após esse episódio, o presidente endureceu sua posição em relação a possíveis negociações de paz com a Rússia e garantiu que não seriam possíveis enquanto Putin continuasse como presidente.

No entanto, Zelensky também protagonizou alguns momentos polêmicos, como no dia 15 de novembro, quando um míssil caiu sobre uma cidade polonesa perto da fronteira com a Ucrânia, causando duas mortes.

O presidente ucraniano culpou o exército russo pelo incidente, mas a Polônia e a OTAN disseram que "provavelmente" foi um míssil da defesa aérea ucraniana.

Sua postura firme contra a Rússia lhe rendeu elogios do público ucraniano, mas alimentou a incerteza sobre uma guerra sem fim à vista.

"Ele precisa manter o espírito de resistência na sociedade ucraniana, mas ao mesmo tempo fortalecer o apoio dos países ocidentais", explica Fesenko.

"O cansaço da guerra é um verdadeiro desafio" para Zelensky, acrescenta.


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